domingo, 28 de novembro de 2010

Eu


Eu escuto as pessoas com toda a tensão do mundo
Eu deixo que me falem em rolagem automática
Eu me faço de rogado & ouço sobre a dor universal
Eu tenho a vida toda para ser sua privada particular

Eu presto atenção a tudo, como a Adriana diz
Eu suspendo o juízo a uma razão divina, & escuto
Eu deixo que me falem em rolagem automática
& escuto as pessoas com toda a tensão do mundo

Lou-Salomé aprendeu com Freud & Nietzsche,
Que aprenderam com Schopenhauer & Darwin,
Que não mencionam Santo Agostinho
Mas compreendem-no melhor que Bento XVI
Que fez tese de doutorado sobre o Hiponense...


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A nova trilha da sua loucura
Scary Monsters, Desvios Subterrâneos


EP "Desvios Subterrâneos" (2010), da Scary Monsters


Scary Monsters é o título de um álbum de David Bowie, lançado em setembro de 1980; é também o nome de uma das bandas mais punks, sujas e barulhentas da cidade de João Pessoa. Sim! Scary Monsters é uma mijada no passeio público, uma gambiarra de muitas emendas que resiste aos anos, que se impõe contra as circunstâncias e, contra a corrente, está aí, e quer estar, desafiando as intermitências do tempo e das situações. Exemplo de tal resistência e insistência heróicas é o mais recente EP da banda – ela tem outro, anterior, mais sujo que este de agora, e eles prometem disponibilizá-lo em breve –, o “Desvios subterrâneos”, gravado, mixado e masterizou no estúdio Jampa Music, por um valor inacreditável, praticamente na base da camaradagem. Exemplo de tal mijada é, já, na capa, você ver Roberto Carlos com bigodinho de Hitler, ou Madonna com cara de orgasmo, ou Jurubeba e Igor (fakes), sendo revistados” pela polícia, ou a garota nua, mascarada, rindo de sua cara, apontando o dedo para você que comprou o EP para ouvir o Igor vomitando a letra rápida de “Dr. Jakyll & Mr. Hyde”, querendo enfiar em seus ouvidos que o monstro mora em cada um de nós, alternando entre a moral hipócrita do Ocidente cristão e a liberdade que Mr. Hyde, na novela de Robert L. Stevenson, representa: “Sua alma atormentada vaga após a meia-noite / Se espreitando entre as esquinas da cidade / De sombra em sombra, caçando sua vítima / Numa sede por sangue que nunca termina / Dr. Jakyll & Mr. Hyde não vão te deixar em paz...”
Comprei o “Desvios subterrâneos” (sim, eu compro os EPs e CDs das bandas locais, porque acredito na música que é feita aqui, na cidade) no dia em que foi lançado (01 de novembro), durante a tumultuada Festa Halloween Dark Nigth II, em Intermares. Gastei os meus últimos R$ 5,00, já empenhados com Renato Abreu, com quem dividi os trocados para uma garrafa de Teachers. Pouco depois eu veria um garoto muito louco, chapado até o talo, se jogar do palco improvisado. O maluco, tendo um dos pés enrolado em um dos cabos do P.A., emporcalhou com tudo ainda durante a apresentação da segunda banda; uma legítima merda! A pesadíssima caixa caiu e, arrastando o cabo que a conectava a outra e ambas à mesa, rompeu-o; fim de festa. Frustrados – pois acabamos não vendo a Scary fazer o seu show, e nem um monte de outras atrações –, voltamos para casa ouvindo o EP nas alturas, no som do carro do Renato. E eu dizia à Renata Maysa: “Putz, essa banda é muito boa, gente!” E “os Renatos” concordavam comigo; e a gente batia cabeça dentro do carro, e berrava em coro o trecho grudento de “Dr. Jakyll & Mr. Hyyyyyyyyyde...” Uma loucura! Uma noite muito boa, apesar de tudo!
“Desvios subterrâneos” contém 6 músicas, na seguinte ordem: “Dr. Jekyll & Mr. Hyde”, “O comediante”, “Doce garota fatal”, “Cadafalso”, “Indivíduo imundo” e “Amor etílico”. A produção é da própria banda, com fotos de Jéssica Tuany e design de Igor, voz principal. Scary ainda tem: Jack Lima no vocal, Luancarlos Bezerra no contrabaixo, Bruno Barba na guitarra e Rodolf Squezze na bateria.
Quando você sabe da pressa que tudo foi feito – falo da gravação e produção do EP – e dos parcos recursos investidos, você não pode deixar de notar que a qualidade das músicas está incrivelmente boa, um verdadeiro feito. A Scary, sem dúvida, é um exemplo do mote punk: “faça você mesmo”, e no melhor estilo. Sempre consegui ver isso e já tive a oportunidade de, eu mesmo, produzir alguns shows e convidá-los para tocar, e sempre foram shows muito loucos, muito bons. Uma pena que, no momento, os espaços para essa banda tenham diminuído e, alguns shows, falhado miseravelmente.
A Scary está na estrada desde meados de 2002, e já participou de alguns importantes festivais da cidade, como o Aumenta Que é Rock e o Festival Mundo, em suas primeiras edições. A banda não merece e não tem o direito de passar por essa “fase de obscurantismo”. Ela merece nosso respeito, e merece ser ouvida por você que sabe (ou acha que sabe) o que é música alternativa, de verdade. Faça um favor a você mesmo: ouça o novo EP da Scary (e ouça logo), e com o som no talo; e quando a banda for tocar em algum buraco da cidade, vá ao show. Você não vai se arrepender, isso eu garanto!

Para ouvir Scary Monsters:
http://www.myspace.com/bandascarymonsters

Para download gratuito do novo EP:
http://www.4shared.com/file/WnGzzkcG/Scary_Monsters-_DS_EP.html



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mundo Perfeito


Ubella Preta

Perfeito! Essa palavra ficou martelando meu juízo desde o primeiro dia (sábado, 13/11) do Festival Mundo. Resumindo: é a que melhor define a sexta edição desse importante evento paraibano e nordestino. Uma conjunção astral-material formada pela estrutura física e ambientes da chamada Usina Cultural Energisa – localizada na principal avenida da cidade, de fácil acesso e com divisões que permitiram diversas atividades com segurança e conforto para todos - e uma impecável programação cultural.

Sua duração foi desde o dia 05 e até o dia 21 de novembro, onde aconteceram interessantes palestras e oficinas (algumas inclusive transmitidas via Internet); mostras audiovisual e de artes plásticas, pocket shows, lançamentos de livro (“Devotos 20 anos” de Hugo Montarroyos) e jornal cultural (“Microfonia” de Olga Costa e Adriano Stevenson). Sua principal característica é essa diversidade de manifestações, tendo a música como principal elemento. Nesse ano tudo mais encorpado e bem produzido, graças à competência do Coletivo Mundo, seu organizador.

Dalva Suada

Durante os três dias estive como cicerone do jornalista poptiguar Hugo Morais (do site O Inimigo) fazendo a cobertura do festival; ele, prestigiando pela segunda vez, percebeu o quanto evoluiu o festival. No final da tarde e começo do evento, logo na entrada da Usina – embaixo de uma grande árvore, numa espécie de boas vindas e bons fluidos ao evento -, tivemos uma abertura sonora inusitada com o ótimo Varadouro Groove Orchestra, um instrumental superb com figuras carimbadas da cena local, que reúne dez (!!!) bateristas, baixista, guitarrista e naipe de metais. Tocaram, num set curto, um som meio tribal, mas sofisticado e mostrando um ar folk-regional.

Já na “Tenda da Música” a primazia da abertura ficou a cargo do trio instrumental rock Ubella Preta, com uma sonoridade dinâmica e pensante, cuja música inicial do set teve a participação especial da dupla Cassiano na percussão e a dançarina Kilma, que deram certo ar de requinte na apresentação da banda. Um detalhe importante foi a excelente sonorização desse ano, geralmente um “problema” nos festivais e que funcionou redondo em todos os dias.

A Banda de Joseph Tourton

No começo da noite foi a vez dos pernambucanos A Banda de Joseph Tourton – também instrumental rock – cuja performance sensacional me deixou (e todo presentes) impressionado. Ouvi vários comentários, mas ainda não os tinha visto ao vivo. Em minha primeira audição, sua postura musical remete a amplitude harmônica de um Mombojó com o vigor barulhento dos escoceses Mogwai. Posso dizer que é uma banda gringa! A próxima foi com os locais Pedecoco, banda reggae roots que não é a minha praia, mas foi uma demonstração da variedade sonora da programação, proposto como ideal do evento, que funcionou na medida. Por motivo maior, tive que ir embora e não vi as outras apresentações do dia, com a perspectiva de destaque para o mpbpop alagoano Wado e o peso-pesado candango do Violator. O que foi confirmado depois pelo amigo Hugo.

Anjo Gabriel

No segundo dia, no mesmo horário das 16 horas, o quarteto pessoense Dalva Suada abriu a programação. É um rock quase bruto que tem referência bluesy-stoner-math-experimental. Imagine algo como – com a devida proporção – se o MC5 soasse hoje como um Crooked Vultures… É mais ou menos por aí. Perto da “hora do ângelus” os pernambucanos do Anjo Gabriel desfilou um rosário de progressive rock no melhor estilo Focus e Yes. Uma boa banda cujo tecladista barbudo, chapéu na cabeça, me fez comentar com a minha amiga Olga Costa, que se parecia (na postura) com Thijs van Leer do Focus, cujo nome só lembrei agora. O caldeirão de sons teve espaço para o neo hardcore com a paraibana Elmo, música rápida com senso melódico que agitou a galera. Cansado ouvi distante o show dos engravatados Sem Horas, rapazes que fazem um retro-pop-rock com influência dos primórdios do rock brasuca. Estão aprimorando mais suas canções, embora eu prefira a “crueza” do inicio da banda. Depois disso tive que ir a um compromisso familiar e não pude ver o restante, mas segundo comentários as aprsentações do cantor-rabequeiro Beto Brito e do duo indie-rock pernambucano Julia Says foram ótimas. E o público como sempre prestigiando mais as grandes atrações.

Madalena Moog

O ensolarado feriado determinou o fechamento das apresentações do festival. Pra mim foi o melhor dia. Bem antes rolou banho de mar no Cabo Branco, registro da farofagem bacana local e uma “session” de cervejas geladas. E todo mundo cantando o refrão “a vida é boa, a beira mar em João Pessoa”, clássico madaleniano além fronteiras. E isso foi o mote para conferir o show da banda Madalena Moog, que fez a abertura do dia. Aproveitaram para lançar novo disco e apresentar uma sonoridade mais direcionada ao samba-rock com rabiscos de maracatu e frevo. O cantor, compositor e guitarrista Patativa guia a trupe para uma verdade mais “abrasileirada”, abrindo (um tanto) mão do pop-rock. O novo disco tá sublime e tem uma primorosa produção. O show seguiu a mesma linha, só faltou os dois metais que completam a nova proposta. Na sequência tivemos o trio Sex On The Beach, outro grupo instrumental que faz um surf music moderno com um “punch” rock bem interessante. É uma atração para qualquer evento.. Quando o grupo paulista Gigante Animal começou pensei que seria um som pesado, barulhento e foi todo ao contrário. Som pensando, meticuloso, melódico e até matemático. O amigo ator e expert em bons sons Everaldo Pontes soletrou que achou parecido com o Bufallo Tom sem distorção e eu vi uma similaridade harmônica com o Death Cab For Cuties, do “line up” são os que mais se aproximam do novo indie rock americano. O baterista Thiago Babalu é sergipano, é uma das crias do genial Rafael Jr (Snooze) e com um aval para ser um dos melhores do festival – Pablo Ramires, da Cabruêra foi o outro animal das baquetas – . O Gigante foi uma grata surprêsa!

Beto Brito

Minha expectativa também não esperava a bombástica apresentação dos poptiguares Camarones Orquestra Guitarristica do casal Ana e Foca. É outra coisa com essa nova formação. Uma banda com um som mais denso, encorpado, mais rock como o Foca resumiu. Um dos melhores shows do festival! Na seqüência tivemos a Cabruêra, o nome mais importante da nova música paraibana e arroz-de-festa dos principais festivais do país, que justificou sua fama com um dos shows mais cativantes do evento. Botou todo mundo pra dançar, fazendo quase todo repertório do disco “Visagem”. Pra mim não precisava mais nada. Ouvi de longe os argentinos The Tormentos que fazem um surf music bem tradicional. Legal, mas eu já estava louco pra ir pra casa e o corpo pedia uma cama. Não foi possível ficar para ver o Abiarap, novidade do rap local e o lendário BNegão e banda, esse vi chegando com seu indefectível óculos e uma descomunal pança. Até hoje tô filosofando: o Mundo não é um festival da massa, mas é massa para o público!

Texto: Jesuíno André / Fotos: Anderson Silva.

terça-feira, 23 de novembro de 2010


Até o próximo domingo, dia 28 de novembro, a capital paraibana é o cenário do maior evento literário do Brasil realizado durante o segundo semestre do ano.

O 1º SALÃO INTERNACIONAL do LIVRO reúne as principais editoras e livrarias do Brasil e exterior e encerra o calendário de eventos do gênero no país em 2010.
O evento conta com diversos espaços destinados ao público de todas as idades. Oficinas, palestras, workshops, atrações musicais e teatrais farão parte da programação. A entrada é franca!
Confira a programação: www.salaodolivropb.com.br
FRAGMENTO DE SONHO Nº 32



Sonhei que lhe amava, meu grande amor
Igual William S. Burroughs a Joan Vollmer
Igual Sid Vicious a Nancy Spungen
Igual Bonnie Parker a Clyde Barrow
Igual Lampião a Maria Bonita
& me danei a achar lindo tudo o que você fazia
Você estripando aquele gato no Altiplano
Também mijando a porta da Igreja do Carmo
& era a visão, de todas, a mais sagrada
Nossa Senhora em sua plena senhoridade
& a gente entrava em uma tela feita por Shiko
Igual Akira Terao em uma cena do filme Yume
Quando Kurosawa usa tão bem Vincent Van Gogh

Sonhei lhe dando a minha faca & o meu revólver
& lhe tirando para dançar Nagasaki Flower
& Zé Guilherme recitava um longo mantra budista
Com voz imposta, mãos estendidas & olhar vidrado
& Jesuíno via você & falava em sexo
& eu me rindo, um viciado muito maluco
& você dizendo que Jesuíno só pensa nisso
& Edmundo concordava com tudo o que era dito
& você descia a Castelo Branco indo a pé para o viaduto
Com uma garrafa de Carreteiro numa das mãos
& quando chegava ao Miramar, vendo as muriçocas
Dizia, rindo, que essa picada era o seu fim
& depois sua cara triste, como um dia nublado

Sonhei que você ligava para dizer que sentia muito
& eu dizia que sentia era fome, & ia comer
& eu já estava de saco cheio era de tudo
Incluindo o milhão de vezes que você ligava
& somente Roberto Carlos me compreenderia
& eu lhe amava com a minha faca & o meu revólver
& lhe amava com os meus dentes & as minhas unhas
& lhe amava com o pão de ontem oferecido
& com a cerveja & as doses certas de cocaína
& lhe amava com o antisséptico & o sabonete
& com o arroz & com o feijão & o frango frito
Eu lhe amava cantando rouco & desafinado
& lhe amava com o som da chuva & do trovão

Sonhei que eu pegava um guarda-chuva & abria a porta
& como no filme de Charles Chaplin, saía andando
& o horizonte era o destino, & a direção
& acordei & estava muito, muito, muito sozinho



sábado, 13 de novembro de 2010

SOMOS


Nos somos o resultado da Liberdade sonhada
O desiderium alcançado & o fim das utopias

Nos somos a vitoriosa Nação Santa
O povo do sucesso histórico
A raça eleita
A casta sacerdotal da realeza
A mais bela das aquarelas de Luyse

Nos somos o Hoje pelo qual, Ontem,
Foram feitas todas as revoluções
E pelo qual morreram todos os santos & mártires
Do Buda ao Cristo crucificado
De Lenin a Gramsci
De Trotski a Lampião & Maria Bonita
De Amaro Gomes Coutinho a Jacobina Maurer
De João Pedro Teixeira a Antônio Conselheiro
Da Revolução Francesa à marcha de 68
De Tancredo em 85 a Ulysses Guimarães, em 92

Nos somos os habitantes deste tão melhor dos mundos
O melhor dos mundos possíveis
Os moradores da Nova Jerusalém
Nova Sião
Novo Céu
Nova Terra

Nos somos o produto dos ideais mais nobres
O positivismo mais positivo
A razão bendita & glorificada
A fronteira vencida
O horizonte descortinado
A esperança realmente desesperada
E assegurada de uma vez para todo o sempre
Assim na Terra como no céu. Amém.

Nos somos o bom termo do sonho americano
A bem-aventurança pesada & medida
A Terra Sem Males conquistada, enfim
A Nova Atlântida reerguida
A Cidade do Sol de Campanella
A Utopia de São Sir Thomas More
E este tão Admirável Mundo Novo

Nos somos o mundo que os beats aspiravam
Que os hippies transcendiam
Que os yuppies maquinavam
E que os punks viam

Nos somos a somatória de todas as fantasias
De todos os delírios
De todas as viagens transacionais
De todas as boas intenções
Que enchem as gavetas das empreiteiras
Do mercado imobiliário
E os quintos dos infernos, por antonomásia

E nos somos o que podemos ser
E somos, por fim, no fim,
Uma grandicíssima de uma merda


(P.)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Festival Mundo é palco para
lançamentos de discos


Desde a primeira edição, música sempre foi o foco principal do Festival Mundo. Não à-toa, a sexta edição do festival foi a ocasião escolhida para que quatro bandas lançassem novos discos. São as paraibanas Elmo e Madalena Moog, além da pernambucana Anjo Gabriel e dos pauistanos do Gigante Animal. Os lançamentos serão comemorados com os shows e os discos estarão à venda no stand Fora do Eixo, em frente à área dos shows.


Anjo Gabriel é uma banda pernambucana de música instrumental psicodélica. Mas não pense em calmarias, a guitarra e a bateria nervosas da banda se complementam com os sons do baixo, teclado e theremin. O resultado é uma música que não poderia ser ouvida de outra forma, senão num bom e velho vinil. Por isso mesmo, a banda estará lançando no dia 14 de novembro, no palco do Festival Mundo, não um CD ou EP, mas um vinil.

A psicodelia dos pernambucanos da Anjo Gabriel

Há um ano trabalhando no projeto de um CD, a Elmo finalmente irá lançar seu disco com 14 composições próprias. Fazendo um hardcore competente e já conhecido pelo público local, a banda teve o disco gravado no Estúdio Mutuca, no Varadouro, e mixado no Sergipe. Nele, constam músicas como “Prisão”, “Diferentes Defeitos” e “O Dono da Razão” – já conhecidas pelo público que freqüenta os shows da banda. O disco leva o mesmo nome da banda e a capa foi feita pelo designer Rodrigo Bonfim. O lançamento acontecerá também no dia 14, será o terceiro show da noite – logo após o do Anjo Gabriel.

O hardcore dos paraibanos da Elmo

Já a Madalena Moog, velha conhecida dos palcos indies locais, estará lançando seu novo CD “Samba Pro Seu Dia” em 15 de novembro. Gravado entre junho e agosto de 2010, o disco tem várias participações especiais de músicos locais já conhecidos e consagrados no cenário local. Pablo Ramirez e Arthur Pessoa, ambos da Cabruêra, Débora Malacar (Sonora Sambagroove), Érica Maria e Xisto Medeiros fazem parte deste, que é o segundo CD da banda. O disco tem 12 músicas autorais que passeiam por vertentes do samba e também do indie-pop.


O CD bem brasileiro dos paraibanos da Madalena Moog

A Gigante Animal, depois de quase dois anos, volta à terras paraibanas. Por isso a banda resolveu chegar com algumas novidades, duas delas lançadas especialmente para esta viagem. Entre os materiais inéditos no nordeste da banda, estão o quarto EP “Obrigado Ténn”, poster em formato A3 e o lançamento da música "Sempre com Razão", gravada e disponibilizada no myspace da banda como uma prévia da tour, além de camisetas confeccionadas com novas estampas, uma delas em primeira mão no Nordeste.

Os paulistas super agitados da Gigante Animal

O Festival Mundo acontecerá de 5 de novembro a 5 de dezembro nas dependências da Usina Cultural Energisa. Dentro da programação, exposição de Artes Visuais, palestras, debates, oficinas, workkshops e ainda três dias de shows (13, 14 e 15) com bandas argentinas e brasileiras que figuram na cena musical independente.
O evento é filiado à ABRAFIN (Associação Brasileira de Festivais Independentes), está integrado ao Circuito Fora do Eixo e será realizado na Usina Cultural Energisa, com apoio do SEBRAE, FUNJOPE, SEDES, Handfull Informática, GrafSet e ABD-PB e Energisa. O site oficial, patrocinado e produzido pela agência SODA Virtual, é www.festivalmundo.com.br.

SERVIÇO:

Lançamento de discos no Festival Mundo
Anjo Gabriel (PE) e Elmon (PB) dia 14 de novembro
Madalena Moog (PB) e Gigante Animal dia 15 de novembro
Usina Cultural Energisa. Rua Juarez Távora, 243 (Torre).


Assessoria de Imprensa Festival Mundo
Carolina Morena
morena.carolina@gmail.com | 83 8804 0455
Sarah Falcão
sarahfalcao@gmail.com | 83 8815 0055

Assessoria de Imprensa Coletivo Mundo
Renata Escarião
renataescariao@gmail.com | 83 8850 5852


domingo, 7 de novembro de 2010

MADALENA MOOG - SAMBA PRO SEU DIA



Madalena Moog - Samba pro seu dia, 2010. Arte da capa: Diego Rezende

A arte não pode ter preço / Justamente por isso é coisa sem valor...” A frase, ambígua, é de “O movimento romântico”, música do/no novo álbum da banda paraibana Madalena Moog, “Samba pro seu dia”. Trata-se do trabalho mais recente e mais trabalhado da banda. Depois de várias sessões de gravação – de junho a agosto de 2010 –, de várias sessões de mixagem e masterização (de setembro o outubro), todas realizadas no estúdio Peixe-Boi, parece que, finalmente, vem aí mais uma faceta dessa banda que, como Patativa Moog (vocal, guitarra) diz, não “sabe como se classificar”. E nem precisa. “Samba pro seu dia” será o segundo álbum da banda, e como o próprio nome denuncia, traz um conteúdo bem mais centrado na música brasileira, misturando rock com samba e com carnaval – palavra reincidente –, uma festa. Na letra da música que dá nome ao álbum, aliás, isso já fica bem explícito: “Menina, eu vou comprar um cavaco / Vou botar samba no meu rock / Olha que eu vou fazer choro do meu samba...”, e por aí vai. Há que se notar, ainda, que as músicas, embora mantenham a velha fórmula – de referenciar as letras com citações literárias, a exemplo da já citada “O movimento romântico”, que é título de uma obra do suíço Alain de Botton –, estão contextualizadas na cidade de João Pessoa, nomeando suas ladeiras, suas ruas e bairros. Na descrição da banda, no site do Festival Mundo, por exemplo, pode-se ler:

Madalena Moog é uma aquarela de João Pessoa, e do Brasil. Casas coloridas, ladeiras históricas e ruas da cidade antiga são retratadas nas músicas que convidam o povo para a festa, para a celebração. Guitarras, metais e sintetizadores, principalmente, marcam os sambas, as bossas e as marchinhas que, temperados pelo bom e velho rock and roll, fundem-se numa musicalidade que procura por novidades, sempre, de modo inquieto e inquietante, provocativo.

O repertório de “Samba pro seu dia” é uma seleção de músicas que a banda já vinha executando nas apresentações ao vivo, e experimentando. Ao total, são nove inéditas e mais três, já gravadas em trabalhos anteriores. Assim, “Hey, amigo”, do álbum “Universal Park” (2009), ganhou novas guitarras, tratamento de voz e uma completa remixagem e remasterização. As outras duas são do EP “Stronic up!”, de 2006: a cativante “Stronic up!” vem acompanhada com a entusiasmada apresentação do americano Pete Cogle, tal como ele a fez, espontaneamente, em seu podcast (Pete Cogle's Podcast Factory); “A rua da vida feliz”, por fim, foi incluída por estar sempre no repertório da banda, também remixada e remasterizada. O CD oficial, que deverá lançado no primeiro semestre do ano que entra, trará faixas extras, remixadas por Chico Correa, DJ Guirraiz e DJ Fabiano Formiga, adequadas para as pistas.

Participações especialíssimas

Na gravação de “Ela só gosta é de carnaval”, “O homem do doce” e “Quarta-feira”, Pablo Ramirez (Cabruêra) foi o homem do pandeiro e do tamborim, emprestando seu talento e alegria à banda. “Pablo não tinha tamborim”, diz Patativa, “então eu comprei um para que a gente usasse na gravação, e depois dei o bicho de presente a ele, em agradecimento”. Foi o “pagamento”. “Já o Arthur Pessoa (Cabruêra) não ganhou foi nada, só a nossa gratidão sincera, amizade verdadeira e simpatia simpática”, diz ainda, rindo.

Arthur Pessoa (Cabruêra), gravando "O homem do doce"

Pablo Ramirez (Cabruêra), gravando todos os pandeiros e tamborins

E não foram as únicas participações. Xisto Medeiros, por exemplo, estava lá pelo estúdio quando a banda gravava as vozes festivas de “Ladeira da Borborema”, na maior animação, e também entrou na folia. E teve Erick de Almeida (Baluarte), que gravou um trecho enorme em “O homem do doce”; trecho que, infelizmente, foi suprimido, quando foram feitos ajustes na mixagem e redução do tamanho da música que era enorme. Também Fabiano Formiga, Renata Maysa e Marcelo Macedo fizeram participações, falando, gritando, etc., tudo muito assim, espontâneo e alegre. Quem ouvir o CD inteiro vai notar essa alegria toda, e é bem capaz de ser contagiado. Todos os backing vocals foram feitos por Érica Maria e Débora Malacar (Sonora), com exceção de “Stronic up!” e “A rua da vida feliz”, que tem back de Silmara Ferreira, primeira vocalista da banda.
Enfim, “Samba pro seu dia” promete ser mais uma grata surpresa para a música produzida na cidade de João Pessoa, e na Paraíba. É esperar para ver. A banda promete lançar o CD durante o show que fará na VI edição do Festival Mundo, dia 15 de Novembro. O CD é produzido por Patativa Moog, em parceria com os selos alternativos Mundo Disco e Sanhuá Discos, dos Coletivos Mundo e Sanhauá.
Madalena Moog é: Patativa (voz, guitarra e sintetizadores), Edy Gonzaga (guitarras, baixos), Rieg Wasa (sintetizadores), Valter Pedrosa (guitarras), João Henrique (trompete), Mib (trombone) e Emerson Pimenta (Bateria).


João Henrique (Trompete) e Mib (Trombone)

Patativa Moog

Valter Pedrosa

Érica Maria e Débora Malacar (Sonora), backing vocals

Edy Gonzaga

Emerson Pimenta

SERVIÇO:

Álbum: Samba pro seu dia, 2010 (Sanhauá Discos / Mundo Disco)
Lançamento: 15 de Novembro, 16:00 | Festival Mundo
Usina Cultural Energisa. Rua Juarez Távora, 243 (Torre).

sábado, 6 de novembro de 2010

Bukowski também te contempla


Bukowski te vê
Do imã da geladeira
Quando você se abaixa
& pega o sal & a pimenta.
Epifania é tua calcinha
Desenhar-se em teus quadris
Teu rego lhe assalta os olhos
Tua alma, o teu nome
Bukowski te vê
& Bukowski te come.

Um dia você suava
Limpando o piso melado
Depois que os ovos caíram
Acaralhando com tudo
& como ele praguejava:
“Que posição tão cruel!...”
& a culpa era de Deus.
Skip James & Lenoir
Afortunados que eram
Descreviam o teu decote
Os teus quadris que dançavam
Comandando o esfregão
“Maldição! Maldição! Ah, maldição!”
Berrava ele, iracundo
Mandando Skip pro inferno
& que o Diabo os levasse
& levasse todo mundo
Que Lenoir era um sujo
& foi justo morrer na merda
Pior que aquela ali, dele
Que também morreu na merda
Mas que, antes,
Comeu muitas bocetas
& amassou muitas tetas
Até que... Caralho! Caralho!
“Um imã de geladeira?!”
& foi um Renascimento
A Maravilha maldita
Que aportou no Brasil
Quando ele foi traduzido
Na puta língua de puta
De terceiro-mundo
De terceira-merda
De terceira-bunda
& se tivesse a parte inferior
Que o filho da puta cortou
(Que imã enorme seria!)
Mostraria o pau pra eles
Pra deixarem de ser tão putos.

& James & Lenoir
Desde esse dia, então
Não gastam uma palavra
Com o linguarudo do Cão
Preferem bater uns papos
Com o outro lá de cima:
Dylan & seus dilemas
(Que aprendeu muito cedo
A respeitá-los como é devido
Antes da condição miserável
Não tão pior por encontrarem
Luiz Gonzaga & a sanfona
Que substituiu Warhol
– o mais estúpido dos imãs –
Dando razão a Lou Reed
... Que pederastia tem limites).

O velho Bukowski, porém
Ignora que lhe ignorem
Afinal, ali: Marylin
Mostrando as pernas & a bunda
Segurando o vestido branco
Contra a boca do bueiro
“Quero ser o vento, garota
Que lambe as suas cochas.”
Mas Marylin, de soslaio,
Chama-o de velho safado
Dizendo que se enxergue
Que vá à merda ou se cale.
“Como se houvesse opção...”
Ele argumenta & lamenta
Não adianta, agora
Ela ignora, vira de lado
& depois perde a fala
É quando vê James Dean
Que, de olhos tristes
Só sabe ver o abismo
Sempre adiante de si...
& quando Bukowski insiste
“Vai pro inferno, caralho!”
Marylin diz, chateada.
“Eu já estou nele, garota...”
Ele responde &, pasmado,
Vê você nua, Renata
Quando acorda, chapada
& faz um café, & bebe água
Às 13:30 d’uma segunda
Daí, do inferno, Renata
Às 13:30 d’uma segunda
Com os olhos paralisados
Bukowski come a tua bunda.


(P.)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Solfejo de Eros – a poesia noturna de Anna Apolinário


“‘A poesia abre os olhos, cala a boca e estremece a alma.’ Para Patativa, com afeto. Anna, 29-10-2010.” É como está dedicado, a mim, o meu exemplar de Solfejo de Eros, da poeta Anna Amélia Apolinário.


Não lembro mais onde foi que conheci a Anna, mas já tem muito tempo. Fico em dúvida se foi no Centro Histórico ou numa noite dessas que a gente esteve conversando e bebendo lá pelo Busto de Tamandaré, na praia de Tambaú. O que não tenho dúvida é que os poemas dela, como ela, respiram os ares noturnos, o clima quente e embriagante de Eros – deus grego do amor. Exemplo disso é o trecho de um poema de Sylvia Plath, que ela cita na página 07, depois da dedicatória que faz a Esaú e Sophia, marido e filha:


Dentro de mim mora um grito.

De noite ele sai com suas garras, à caça

De algo para amar.


Temas noturnos, poesia noturno-erotizada. A palavra “noite” é recorrente – usada doze vezes em 39 poemas distintos – e, personificada, aparece quase sempre com “N” maiúsculo, em reverência da autora. Fora ela, direta, há as derivadas, consequentes: anoitecer, madrugada, noturno, notívagos, estrelas, lua, crepúsculo, vespertina, sonhar, aurora, etc. “Aurora”, aliás, é o titulo que ela dá ao poema em que lemos:


Olhos abrasadores

Incinerando um céu de safiras

O mar veste o fulgor da lua

Rosa iridescente na areia adormecida


Vênus avança feito Ondina

Arrastando estrelas em seu vestido vaporoso

Madrepérola em carruagem de neblina

Dança de corpos enamorados no declive

Uma pequena mácula de vinho

Maná para os famintos notívagos.


A noite é anfitriã da poesia, dos poetas insones e embriagados. E a embriaguez pode ser com vinho, com vodka, ou com a poesia mesmo, ou com tudo isso junto. Lembro-me que, comum das vezes em que estive com a Anna e com os nossos amigos em comum, a vodka e o vinho sempre estavam presentes, e as poesias. A poesia de Anna tem a cara do sono entorpecido de Dionísio, e descrevem cenas oníricas como as pinturas de Dalí, que ela cita no poema “Palavra de Pandora”. Assim, em “Rosa na redoma”: “A Noite queima em minhas veias / Enquanto encho essa taça...”, e em “Ascensão”, a primeira frase acusa que “A Noite encheu todo meu cálice...” E ele permanece cheio pelos demais poemas, como em “Sylvia queima”: “Vênus da alcova, Sílfide messalina / Viciada em adesivos de nicotina / Insone & neurastênica, dopada e deprimida / Permita-me lamber sua iconoclastia...” Surrealismo e embriaguez. Anna é uma menina beat erotizada:


Às cinco horas de uma tarde nua e aprazível,

Nas veredas do ponto de cem réis,

Cá estou a bebericar de meu café cortês.

A garçonete me aparece em andrajos de sereia,

Sibila-me o verso ó peixe onírico!

Nobre gota de céu marejou meu olho infante:


É Mozart no passeio público,

Interrompe seu tropel místico,

E vem ter comigo.

Ai de mim que não sou poeta!

Acendeu minha cigarrilha

E me trouxe um Blues muito lascivo.


Trata-se do poema “Estudo para um Delírio (Mozarteando)”. Somente quando a série de poemas encabeçados por “HEDONÊ” – assim mesmo em maiúsculo, que é para marcar a mudança no andamento, como um refrão numa balada – aparecem, é que o tom poético se torna menos cálido, e mais cândido, como nos maternais “Soneto para Sophia”, “O verso mais bonito” e “Flamenca”, todos dedicados ou referentes à Sophia, menina linda, filha da Anna e do meu querido amigo Esaú. Mas mesmo nesta nova série, Eros está presente, sendo ele o responsável pela semente que traz à luz, inclusive, a Sophia (Sabedoria, em grego): “Dá-me o delírio de unir-me a ti / Um Deus! / Dentro de mim” (“Soneto do amor metalírico”), ou no “Carnaval anarcoerótico”:


Me deixa ser o teu pecado

A flor de teu desejo cálido

Num jardim de prazeres plácidos


[...]


Me traz um samba com versos embriagados

Não repara no meu querer desafinado

Pierrot libertinando lirismo

Para os lábios da Colombina, um colapso.


A fala sóbria e formal, “deixa-me”, “traz-me”, que Anna entende muito bem, é substituída pela informal e ébria, apelante: “me deixa”, “me traz”. Tudo fica assim, perto da realidade mesmo da vida noturna, e da intimidade que a penumbra e o álcool trazem. É um delírio; um belo delírio.

A poeta que, em “Estudo para um Delírio (Mozarteando)”, diz: “Ai de mim que não sou poeta!”, termina o livro com o poeminha de quatro frase, cujas três primeiras dizem: “Escrever é insensatez / Poesia não cabe em versos / Páginas de amor são tolices...” E elas me lembraram Fernando Pessoa, no poema “Todas as cartas de amor são ridículas”, em que, lá pelo meio, podemos ler: “Mas, afinal, / Só as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / É que são / Ridículas.” O mesmo vale para quem nunca escreveu um poema: ridículos; e vale ainda para quem não lê poesias, mais ridículo ainda. E preciso dizer, por fim, que Anna mente, e mente muito mal. Basta ver/ler Solfejo de Eros para não ter nenhuma dúvida de que ela é, sim, poeta; e das mais excelentes!


Autografando


Livro: Solfejo de Eros (1ª edição, julho de 2010)
Autora: Anna Amélia Apolinário
Editora: Câmara Brasileira de Jovens Escritores – Rio de Janeiro
Valor: R$ 15,00
Contatos:
anna_apolinario@hotmail.com
www.rosanaredoma.blogspot.com/

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O livro pode ser adquirido com a autora ou no Sebo Cultural

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