quarta-feira, 22 de junho de 2011

La Musique no Varadouro

Segunda edição de Fête de La Musique integra 19 grupos em espaços de cultura do Centro Histórico da capital


O Varadouro será o local para a realização da Fête de la Musique (a Festa da Música), um evento que se celebra simultaneamente no mundo inteiro em 21 de junho (dia do solstício de verão) com o objetivo de celebrar e compartilhar a música em toda a sua diversidade de gênero e estilo. Ao todo são 19 atrações que vão se revezar na Praça Anthenor Navarro. Espaço Mundo, Casa de Cultura Cia da Terra, Casa de Multicultura e Pogo Pub. Entre as atrações, bandas como Varadouro Groove Orchestra, Chico Correa & Eletronic Band, Meio Free, Jam Tribo Ethnos, Madalena Moog & Coletivo Sanhauá, Debuk & Banda Santo Graal, Zeferina Bomba, Cerva Grátis, Sem Horas e Chico Limeira & Samba Trem das Onze.

Praça Anthenor Navarro contará com show da Varadouro Groove Orchestra. Foto: Secom/JP.
A proposta, que segue os princípios internacionais do evento, se propõe a celebrar e partilhar a diversidade musical com o público. A programação dos shows e apresentações foi, portanto, pensada para oferecer sons e expressões variadas. A abertura do evento ocorre às 18h com shows do cantor Paulinho Ditarso, Baluarte e Grupo de Percussão do Porto com a Ala Ursa. Em seguida, às 19h na Praça Anthenor Navarro, está programada a performance de muita batida da Varadouro Groove Orchestra. Nenhum artista é, nesse dia, remunerado: todo o mundo participa e contribui para o sucesso da festa. É este o espírito da Festa da Música. Grande evento aberto e gratuito, a Fête de la Musique se posiciona também como uma alternativa às festas juninas.

Em 1982, um ano após a primeira eleição de François Mitterrand para a presidência da República francesa, o ministro da cultura da época, Jack Lang, cria la Fête de la Musique, a Festa da Música, celebrada em 21 de junho, dia do solstício de verão no hemisfério norte, quer dizer o dia mais longo e a noite mais curta do ano.

O evento tem como finalidade a democratização do acesso à arte e à cultura, especificamente através da música. É um convite para todos, músicos e não músicos, profissionais e amadores, levarem a música para as ruas, praças e parques das cidades. Criar algo mais simples, impossível. Quem quiser tocar, toca: o que quiser, onde quiser, como quiser, só ou em conjunto, e sem cobrar nada de ninguém.

Já, em 1985, três anos depois de sua criação, a Fête de la Musique, cujo sucesso na França é a cada ano maior, está sendo "exportada" para alguns países da Europa e, em 2011, 29 anos depois, essa festa está presente em mais de cem países e 250 cidades nos cinco continentes. A Fête de la Musique quer ser uma celebração da música em toda sua diversidade, tanto em gêneros como nas mais variadas formas de execução e interpretação. Fenômeno totalmente globalizado hoje, evento massivo e popular, além de apresentar as novas tendências musicais, a Fête de la Musique sempre traz tanto o renascimento das músicas tradicionais como a explosão de músicas do mundo, permitindo que novos talentos sejam descobertos.


Quem toca na "maratona"


l ESPAÇO PÚBLICO (PRAÇA)

* Varadouro Groove Orchestra
* Performance de rua

l ESPAÇO MUNDO

* Chico Correa & Eletronic Band
* Meio Free
* Rieg
* Incessante

l CASA DE CULTURA CIA DA TERRA

* Projeto X: ACena dança
e PercSOUNDuo
* Nomade Riddim e Cia Lunay
* Jam Tribo Ethnos
* Grupo Raízes
* Madalena Moog & Coletivo Sanhauá

l CASA DE MUSICULTURA

* Febuk & Banda Santo Graal
* Sem Horas
* Chico Limeira & Samba
* Trem das Onze
* Greyballoon

l POGO PUB

* Zefirina Bomba
* Cerva Grátis
* Red Butcher
* Bárbara
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Fonte: Jornal O Norte / Show - Edição de terça-feira, 21 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ode à segunda-feira




Bendita seja a segunda
a que dizem: “Que horror!”
vomitando tédio & rancor
blenorragia, pus & coceira

Bendita segunda-feira
nas noites de lua-cheia
de uma música na cabeça
& o sangue solto nas veias
Bendita segunda-feira
que eu emendo com a terça
com a quarta, com a quinta & a sexta
começando outra semana
– que a ordem já não engana
& convém à ocasião
com samba, rock ou baião:
bem-vinda, segunda-feira!

Bem-vinda, segunda-feira
de cara bêbada & amassada
da acaralhadíssima privada
suja de vômito & de mijo
da fedentina que, digo
incensa a casa & a rua
sacralizando Dionísio
& a vela que é acesa
à Morte que, com certeza
espreita a todos & todas
tão certa – queira ou não queria

assim como és também, sim, sim, SIM...

... BENDITA SEGUNDA-FEIRA!



sábado, 18 de junho de 2011

Agenda: Varadouro vira palco principal para a Festa da Música com 22 atrações nesta terça-feira (21)

Há 30 anos, exatamente no dia 21 de junho, acontecia na França a primeira edição da “Fête de La Musique” – ou Festa da Música. O evento ganhou tamanha proporção que hoje acontece em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, na mesma data em que foi criada. E pela segunda vez, a Festa acontece em João Pessoa, levando 22 bandas da cidade a tocarem em cinco espaços na Praça Antenor Navarro na próxima terça-feira (21).

Os shows acontecerão na Praça Antenor Navarro, Espaço Mundo, Pogo Pub, Cia. da Terra e Casa de Musicultura. As apresentações começam a partir das 19h, de graça.

Confira a programação completa:

Praça Antenor Navarro

Varadouro Groove Orchestra
Performance de Rua

Espaço Mundo

Chico Correa & Eletronic Band
Meio Free
Rieg
Incessante

Casa de Musicultura

Febuk & Banda Santo Graal
Sem Horas
Chico Limeira & Samba Trem das Onze
Greyballoon

Pogo Pub

Zefirina Bomba
Cerva Grátis
Red Butcher
Bárbara

Cia da Terra

Projeto X: percSOUNDuo + Acena
Nomade Riddim + Cia Lunay
Tribo Ethnos
Grupo Raízes
Madalena Moog & Coletivo Sanhauá

Comunidade Porto do Capim

Paulinho Ditarso
Baluarte
Grupo de Persussão do Porto com Ala Ursa

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Confira alguns vídeos do que você não pode perder:

Zefirina Bomba

Varadouro Groove Orchestra

Rieg

Madalena Moog


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Fontes:
http://atividadefm.wordpress.com/

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O homem natural




Quando Chris MaCandles leu O chamado da selva
MaCandles ouviu o chamado da terra &, ah!, ele pirou
Era o homem civilizado querendo voltar às origens...
[uma risada enorme de enorme aqui, & mais outra
ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha
ha ha ha ha ha ha ha HA HA HA HA HA HA HA...]
Ah!, nudistas idiotas & naturebas vegetarianos...
... não há homem natural, não; não há! (Eu digo!)
O homem natural é justamente o antinatural
(que se recusa a ser aquilo que nasceu sendo)
de um jeito ou de outro
por este ou por aquele caminho
negando seu Eu mesmo como coisa ruim
desconhecendo o real valor do seu Eu Real
& a cara sorridente de Thomas Jefferson
& a etiqueta nos restaurantes granfinos
& as festas da gente chique do lugar
& as noites frias depois das chuvas
& os livros santos & os sagrados símbolos
& o sermão do Pe. Pedófilo todos os domingos...
... hipócrita fela de uma puta bemmm puta!

De onde nos veio essa moral que nos arvorizou?
& qual foi o dia que nossa cultura nos emparedou?
Quando foi que nos tornamos árvores & fósseis?
MaCandles talvez fosse um exemplo a ser imitado...
... mas, não; não é & nem poderia sê-lo
O homem natural não dominaria a natureza
animal sem a razão que submete, se submeteria
& não seria somente roupas que não usaria
mas também o fogo
& as comidas enlatadas
& a internet
& a TV digital
& o telefone
& os polegares
& os óculos de grau
& nenhum papel para um poema
& nem papel higiênico para limpar a bunda
O homem natural não faria qualquer poema
& nem ouviria nenhum chamado da nenhuma selva
porque não saberia nada de nada de um Jack London
não amaria a Terra, & desconheceria o que fosse isso
sendo um com ela, uma parte dela & parte do todo
O homem natural não poderia nunca existir
até pelo fato de não saber que “existiria”
que é existente, & o que seja mesmo o “saber”...
vivendo a pulsão cega interior & sem saber dela
jogado por este ou por aquele caminho
em direção à Vontade de vida contra o não-ser
& à liberdade que, sonhada, desconheceria
obedecendo-a como um cego ao seu cão fiel
& como um rio à sua correnteza & ao seu curso
& como a nuvem aos ventos & às estações...
... O homem natural não saberia sobre o vento
mas o sentiria, & isso lhe seria bom ou ruim
mas o que significaria isso de “bom” ou “ruim”?
Ele não saberia, mesmo do “dizer”, o significado
que palavras ou significam algo ou, algo, são
& do mesmo jeito que não há os universais
não há (sim, não há!) o tal de homem natural

& é por isso – & não quero perdão por dizer –
que a maior de todas as piadas é ser hippie (é!)
negar o valor do capital & precisar dele (é!)
como aquele que, simbolizado pelo metal
compra mais metal para uma pulseira, & outro colar
ou um hamburger gorduroso lá na Lagoa
ou o burrinho da cachaça ruim & barata
de mil dores de cabeça & enjoo certo & certeiro
A maior de todas as piadas é ser hippie
& punk, & rocker, & mpbesta, & isso & aquilo
tudo é fantasia & adequação & acaso & luta
& quem é que liga para a verdade de tudo isso?
& todos estão com braços & pernas bem amarrados
& o homem das cordinhas rir dos bonecos
& eu lhe chamo para dançar, mas não sei dançar
& você me chama & eu digo, sim; você me conduz
conforme a propaganda & a insistência comercial
& tudo é um grande baile de máscaras no final
carnaval moderno... a antiga festa dos foliões
procissão de santo, roda de dança & celebração

O homem natural é tão antinatural quanto pode ser
& quanto mais se esforça para não sê-lo
tanto mais é tudo o que evita, & o seu contrário

& agora eu quero que as pessoas, (sim!)
cada uma delas, & ao menos uma vez na vida
olhem para si mesmas & assumam (Oh, sim!):
“Eu também sou uma grande de uma farsa”
& eu quero que as pessoas queiram isso, já!
tudo agora, & amanhã & depois de amanhã

P.

quinta-feira, 16 de junho de 2011


RÁDIO LIVRE JÁ! Um projeto do Fórum de Música de João Pessoa


Show nesta quinta, 16 de junho, com Orquestra Sanfônica do Balaio Nordeste, Jaguaribe Carne, Atitude Urbana, Scobá, Febuk & Banda Santo Grau - 19:00, ingressos a R$ 5,00 (meia) e R$ 10,00 (inteira), no Teatro Santa Rosa. Toda a renda será destinada à compra de equipamentos para a Rádio Livre.

domingo, 12 de junho de 2011

SALMO 23



O salário é um bom trator; tudo me faltará
Ditar-me faz em camas ruins; sim, sim!, oh, sim!
porque os colchões Ortobon são caros p’ra cacete
Dá-me pesadelos dormir assim, & dores na coluna
& ando errante pelas ruas da cidade, praguejando...
pois a justiça é a conveniência do mais forte
& a verdade pertence a quem paga mais
& ainda que eu andasse por vales verdes, ensolarados
& à sombra das cerejeiras, não me consolaria
pois tudo isso não seria meu, ah!, eu saberia!
mas de algum novo senhor deste enorme engenho
esses que ocupam as mesas dos restaurantes mais caros
na orla de Tambaú, & de Cabo Branco, & de Intermares...
& os meus inimigos se riem de mim, na minha cara
& o meu cálice de pinga transborda, & a minha cabeça dói
& não tem Anador nenhuma que dê jeito nessa porra... ai!
Certamente que a maldade & o desamor me alcançarão, sim!
me seguirão todos os malditos dias da minha maldita vida
& habitarei neste inferno para todo o sempre, até o fim



segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nada é de graça! Nada!

(uma carta-manifesto)




Bem recentemente, quando se soube que a SECULT (Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba) apoiaria o lançamento do livro “Fela – Esta Vida Puta” (editora Nandyala), do cubano Carlos Moore, e que o mesmo vinha com um depoimento do seu secretário, o paraibano de Catolé do Rocha, Chico César, surgiu a discussão sobre o tipo de apoio que a SECULT estaria dando, e se, caso houvesse algum apoio financeiro, era coisa legítima, legal e moral, uma vez que, deixando de apoiar artistas locais, etc., estaria apoiando – independentemente da importância do livro e de seus envolvidos – particulares (autor e editora) que não têm ligações outras com o Estado. Enfim, essa não é, aqui, a questão que quero colocar. Minha intenção, por hora – uma vez que um amigo (Edy Gonzaga) mencionou meu nome em uma afirmação que tenho usado com alguma frequência (“Nada é de graça!”) –, é demonstrar o fundamento do afirmado: a não gratuidade de eventos que se dizem gratuitos. Tarefa que não é de difícil demonstração, e menos ainda de compreensão.
...........Imagine que, no caso acima, a SECULT tenha apenas dado “apoio moral”, com a boa intenção de “divulgar a vida e a obra de um líder negro muito importante”; imagine ainda que, excetuando a propaganda feita sobre o tal lançamento do livro, envolvendo o nome da secretaria, não houvesse despesa alguma para a mesma – ou para o contribuinte, nós, no caso. Pois bem, eu estive no lançamento do livro, na noite do dia 25 de maio de 2011, nas dependências do Sebo Cultural, e posso falar do que vi, do que vejo, do que sei.
...........1) Não foi de graça que o Sebo abriu suas portas ao lançamento. Por que? Porque o Sebo estava em plena atividade, gastando energia, pagando funcionários, vendendo livros, etc. – eu mesmo comprei um, no dia (uma coletânea de poemas de três poetas beat). Associados ao lançamento estavam, neste caso, o nome do Sebo, sua propaganda, investimentos e lucros (capital simbólico e comercial);
...........2) Havia um equipamento de som – de onde veio? Eu sei: uma amiga o emprestou (não preciso dizer seu nome, claro; mas tomei uma cerveja junto a ela, e fumei um Hollywood que a mesma me cedeu) e, para leva-lo, com certeza teve gastos: mão de obra, combustível, tempo, etc. Aliás, a mesma me confidenciou estar na ativa desde cedo, e já eram quase 22:00;
...........3) Havia um carrinho de espetos e cerveja na entrada – e ele somente estava ali por causa do movimento que havia na noite. Ou seja: alguém, que nada tem a ver com o evento, também teve algum lucro com ele (como também ocorre com os ambulantes ali pelo Centro Histórico em dias de eventos) – e adivinhem onde foi que eu comprei a única cerveja que bebi naquela noite?
...........4) Duas questões que não sei responder, e quem vêm ao caso meramente como ilustração: a) quem pagou a passagem do autor do livro sendo lançado, e b) sua hospedagem e locomoção até o local do evento e após? Vocês hão de convir que, para isso, gastos são necessários;
...........5) Quando ao público, me coloco como exemplo. Eu mesmo, para me locomover até o local do evento “gratuito”, e como os demais, tive de pagar a minha passagem de ônibus ou o combustível para o meu carro. Ou seja: mesmo isto sendo um pequenino gasto – insignificante mesmo; mas significante, se levamos a questão ao pé da letra –, é, afinal, um gasto;
...........6) Imagine que você, andando ali pela Antenor Navarro, recolha uma garrafa de cerveja, long neck, vazia. Você olha para o seu amigo e diz: “Quanto custa isto?” Ele dirá, certamente. “Nada. Isso é lixo.” Só que, ao comprar a tal cerveja, o desconhecido proprietário daquela garrafa, agora vazia, não pagou apenas pela cerveja, mas também pelo seu vasilhame; embora tenha se livrado dele após sorver o seu liquido. Sim, aquela garrafa, vazia, tem muitos preços: de fabricação, de transporte, de impostos, etc. – mesmo que, aparentemente, agora, nada custe;
...........7) Outras questões, com certeza, poderiam ser elencadas aqui, mas estas, creio, servem para ilustrar o que estou tentando dizer desde o início – contra as palavras de quem ousa dizer que há “eventos gratuitos” (e nem vou tocar na questão de quando tais eventos ocorrem em lugares como bares, em que os artistas nada ganham, além de “divulgarem seus trabalhos”, enquanto o bar ganha vendendo garrafas e mais garrafas cheias de cerveja, ou despejando-as eu outros recipientes, funcionando, ambos, para o que vieram), em que o espectador/público, em teoria, “nada paga”.
...........Pode parecer birra de um cara chato e rabugento – que seja! –, mas, como dizia Martinho Lutero: “A verdade é a verdade, esteja na boca de quem estiver.” Eu acredito nisso. E acredito mais: acredito que nós, artistas – pelo menos os que se levam a sério –, temos de começar a entender muito bem essa mecânica econômica: que alguém sempre sai lucrando com o que fazemos, investimos para poder fazer. E, não!, não estou dizendo que vamos entrar numa “visú” capitalista-mercantilista, e ainda mais se não temos um nome tão bem projetado no meio artístico-cultural da cidade, ou um bom apelo que gere público (isso deve valer contra quaisquer porraloquices-estrelistas de bandas ainda pequenas e pouco expressivas, ou outras expressões artístico-culturais).
...........O que digo, afinal – e se queremos valorizar a nossa arte e o nosso nome –, é que temos de selecionar muito bem os eventos em que vamos tocar (ou apresentar algum outro espetáculo), sabendo que, se alguém sempre sai ganhando com isto, temos nós também, sim, de ganhar alguma coisa – mesmo que essa “coisa” não seja o “capim” com o qual pagamos o leite das crianças.
...........O que digo, finalmente, é que não há eventos gratuitos; e já é hora de, além de nós (e que isso se aplique e se estenda a qualquer outra expressão artística além da música, que é o nosso caso) que pagamos ensaios, aluguel de estúdios, compramos equipamentos, etc., outros também perceberem a esperteza de quem propaga esta velha e safada mentira, apresentando-se hora como promotor ou promotora de alguma cultura, hora como gente bem intencionada, etc. Quando você encontrar alguém muito bem intencionado ou muito bem intencionada, DESCONFIE.
...........E, para concluir, um aviso: não preciso que você, amigo, concorde comigo, se não entende que eu tenho razão! Mas, se assim entender e ainda assim discordar, então, meu amor: vá à merda!
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Patativa Moog é pernambucano; escreve as letras e faz as músicas da banda paraibana Madalena Moog; é professor na FIP (e em outros lugares menos ortodoxos), com mestrado em História da Filosofia e doutorado em Filosofia da Religião, área que também atua como pesquisador.

O império de Fela

'Voz da África' que entrou para a história da Nigéria ao contestar a ditadura de seu país, Fela Kuti tem sua biografia lançada no Brasil

04 de junho de 2011 | 0h 00
Roberto Nascimento - O Estado de S.Paulo

O calvário de Fela Anikulapo Kuti começou em 1974, quando a ditadura nigeriana se deu conta de que o afrobeat era uma ameaça ao establishment. Com uma receita politizada que incorporava as tramas instrumentais de James Brown à polirritimia do oeste africano, a cria musical de Fela tornara-se febre entre as massas do país, denunciando a prefeitura de Lagos, enaltecendo o "eu" africano e expondo as hipocrisias de nigerianos que se submetiam à mentalidade colonialista.

Reprodução
Reprodução
Trajetória de um mito. “Ele falava o que os homens não tinham coragem de dizer”, diz o biógrafo Carlos Moore

A popularidade dos discos Afrodisiac e Gentleman, ambos de 1973, foi o estopim. Um ano depois, Fela, nascido em 1938, foi preso por 50 policiais e passou dez dias na cadeia. Pagou fiança, voltou para casa e somente então descobriu o quanto queriam amordaçá-lo: na mesma noite, a polícia bateu à sua porta e plantou um baseado em seu quarto. "Olhei pro papel. Pensei rápido, cara, rápido mesmo", conta Fela na biografia Fela - Esta Vida Puta, do cubano Carlos Moore, cuja tradução está sendo lançada no País esta semana. "Pulei em direção ao policial, peguei o fumo, enfiei-o na boca e pulei na cama, cara. Engoli a ponta! Peguei a garrafa de uísque ao lado da cama, pus na boca e empurrei a maconha goela abaixo. E aí comecei a esculachar os caras: "Qual é o problema de vocês, seus desgraçados? Olha, eu tô tentando salvar este país, porra. Vocês querem me colocar em cana? O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? É porque eu fumo? Porra..."

Cantando em inglês e iorubá, sobre composições que duravam de 15 minutos a uma hora, duração decididamente antipopular, Fela foi a voz da África oprimida por quase três décadas mesmo sem ser "marketável" como Bob Marley. A batida descrita é apenas o primeiro dos incidentes que culminaram em um ataque à sua comuna, a República de Kalakuta, em que o Exército nigeriano, liderado pelo ditador Obasanjo, jogou sua mãe de 78 anos do segundo andar e ateou fogo ao local. O episódio, que resultou na morte da mãe, levaria o músico a contemplar o suicídio mas também serviria de inspiração para composições demolidoras como Unknown Soldier, igualada somente por Zombie, em que ridiculariza soldados fantoches; e V.I.P, cuja sigla significa vagabundos no poder.

Através de uma trama polifônica, adaptando depoimentos de Fela, amigos e mulheres a uma narrativa linear, Moore busca retratar a complexidade do maior ícone cultural africano do século 20, homem que gravou mais de 70 discos, ajudou a derrubar um ditador, casou-se com 27 mulheres e liderou uma comuna no coração do gueto de Lagos. "Eu quis mostrar o Fela total", conta Moore, referindo-se às declarações homofóbicas e machistas de Fela no livro, entre elas, "faz parte da ordem natural das coisas as mulheres serem submissas ao homem", "o único tipo de sexualidade que é contra a natureza é a homossexualidade" e "eu nunca bati nos meus filhos, juro. Mas de vez em quando é preciso dar uns pafpafpafs nas minhas esposas".

Moore explica: "Eu reproduzi a visão dele com exatidão. Queria fazer com que as pessoas pensassem. O que ele fala dos gays, o que ele fala das mulheres é o que 99% dos homens pensam, mas não têm coragem de dizer. Fela tinha coragem", completa.

Lançado originalmente nos anos 80, o livro serviu de base para o musical Fela!, hit da Broadway em 2009. Moore foi amigo pessoal de Fela, que morreu em 1997, vítima de aids, e está processando os produtores da peça por terem usado trechos de seu livro sem o compensarem financeiramente.

O escritor teve acesso à intimidade de Fela. Entrevistou todas as 27 mulheres. Viu o músico chorar. "Foi muito difícil. As pessoas não acreditavam. Ele era um cara muito duro, machão, batia de frente com a polícia, falava para todo mundo ser forte, se desprender do medo", conta.

A miséria do nigeriano e sua luta obstinada para desmascarar a corrupção do governo foram presenciadas em primeira mão por Moore, que foi chamado por Fela depois que, de acordo com o próprio, o músico consultou-se com o espírito de sua mãe.

"As batidas eram horríveis. Muitas pessoas não queriam visitá-lo porque tinham medo de sofrer um ataque do Exército enquanto ele estava lá. Eles vinham armados, atacavam com baionetas, estupravam, matavam". A nova edição sai no País com um prefácio de Gilberto Gil.

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Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110604/not_imp727885,0.php


domingo, 5 de junho de 2011

HOJE, NO CIRCO: O FIM DO MUNDO!

Uma audição falada para o EP “Coisas belas e sujas”, do projeto Cinemerne



“Feche os olhos! Deus está dançando.” (Paulo Henrique)

É um domingo, 13:20, e eu estou ouvindo, pela primeira vez – e praticamente em primeira-mão –, o EP “Coisas belas e sujas”, do projeto Cinemerne, encabeçado (e quase todo tocado e produzido) pelo sergipano (da cidade de Lagarto) e multi-instrumentista Paulo Henrique, ex-Lacertae (que ainda está na ativa). Nele, também Léo Airplane (tecladista da Plástico Lunar) põe sua assinatura, tocando vários instrumentos, fazendo arranjos e coproduzindo. Os dois são os culpados pelo resultado final. Cinemerne é o nome que, na língua dos utopianos (leia A Utopia, de Thomas Moore), significa “festa inicial”, celebrada nos primeiros e últimos dias dos meses lunares no ano revolucionário-solar.
É um domingo de ressaca, depois de uma sexta de estradas cruzadas e um sábado alcoolizado, e um resfriado mal vindo.
É um domingo e eu penso que, para falar sobre este trabalho incrivelmente bom do Paulinho, como os amigos mais próximos o chamam, eu precisava estar com a cabeça no lugar, e corpo também. Mas caio em mim e, “não!”, penso, “é justamente o contrário!” Por isso, continuo. Mas, antes, tenho que falar do sábado, que foi quando o amigo Jesuíno André me presenteou com um exemplar do referido EP.
“Pata, o Paulinho é um artista maravilhoso; e depois de muito tempo sem gravar alguma coisa voltou àtiva com este trabalho. Dá uma sacada e diz o que você achou.” Ele dizia, enquanto a gente deixava a tarde passar pela orla de Cabo Branco, entre uma cerveja, um ensopado de camarão e umas doses generosas de cachaça Serra Limpa.
E eis aqui o que eu acho:
As 5 canções de “Coisas belas e sujas” – nome de uma delas e também de um filme do diretor britânico Stephen Frears, lançado em 2010 – soam monocromáticas, monocórdicas e, por incrível que pareça, não deixam “a peteca cair”, mas mantêm-se como um enorme discurso poético-gritado, psicodélico-pirado, às vezes raivoso, às vezes delicioso, como no começo da música que dá nome ao projeto: “Uma flor se espreguiça ao sol, / Uma formiga carrega um grão. / Uma pobre mulher se sente só. / Um doente novamente se sente são. / E esses dias são tão tristes.” Trata-se, para quem sabe ouvir, de uma cadência experimental que, no que é possível, foge aos modelos estabelecidos, como fórmula para... Ouça-o inteiro, Helena; ouça-o inteiro.
Quem conhece P.H., sabe que que ele também já esteve assim: como a flor, a formiga, a mulher solitária, e o doente que fica bom. “Paulinho esteve ausente muito tempo, Pata; meio perdido em [...], e ele diz que foi a música que o salvou, lhe mantendo são...” São palavras de Jesuíno, falando de um amigo a outro amigo, sem juízos e sem clichês impressionantes, e a música aí, no meio da gente, no meio das conversas. Sim! Um bom delírio, às vezes, pode nos salvar da piração absoluta! E elas são muitas, e manifestam-se de muitas maneiras. E é por isso que, observando músicas e letras, começo a perceber que, sim – e somente o autor poderá dizer o contrário –, há muito da história de vida deste artista incrível, desse cara incrivelmente talentoso, mostrando seu mundo, suas referências, sua pródiga imaginação que voa mundo afora (China, Rússia, Atlântida, Índia, Alexandria, etc...), seus gostos pelo surrealismo multicolorido de Van Gogh, pela tensão imagética de Stephen Frears, que parece plastificar e amarrar todas as demais referências, como se, a não ser pela imaginação, não fosse coisa boa sair lá fora, onde está, o tempo todo “chovendo querosene”, e onde há “um idiota cantando na chuva... [e] esse aí sou eu...”, e que, por isso, e para ele, “hoje, no Circo, [poderá ser] o fim do mundo”. Quase todas as letras têm esse tom hora melancólico, hora sombrio, descrevendo imagens cinzentas (como o céu enegrecido pelos corvos que, na capa, desabam sobre o dourado trigal das/nas cores de Van Gogh), como quando se diz de “uma alma que sente suja”, ou “esse vazio que tanto insiste, como a solidão na vida deu um monge”, e, não por fim, quando é mencionada “uma criança que nunca sorriu”...
Não, não; melhor não! Melhor voltar atrás, fantasiar outros campos, pensar que “hoje não estou demente / [pensar que] a luz brilha no quarto / Vermelho sol poente / [pensar que] a tristeza tem fim / [pensar que] o dia sorri pra mim”. Sim, apesar de tudo, e por ser uma via catártica, a música, mesmo a mais triste e dolorosa, pode expurgar medos e raivas, desencantos e frustrações. A arte é, sim – e a música é sua mais acabada manifestação –, a grande saída contra o trágico que impera no mundo. E P. H. sabe disso, e sabe bem; e faz coro com os poetas gregos, e com Schopenhauer, e com Nietzsche, e com tantos outros que souberam ver o céu encarvoado de corvos famintos e, acima deles, um sol solitário... e sua luz. A arte é um escape do trágico!
Hoje é domingo, e agora são 14:20, e esta é a terceira vez que coloco o EP para tocar enquanto escrevo sobre ele, e estou resfriado, e sem almoço... e a fome vem me dizer que é hora de comer.
Talvez eu pudesse, noutra hora, reescrever tudo o que disse aqui, de modo mais cuidadoso e criterioso. Seja como for, e até aqui, esta foi uma fiel tentativa de descrever a minha primeira impressão sobre o “Coisas belas...”, e ela foi boa, e eu não costumo ouvir algo tantas vezes seguidamente, e gostar do mesmo jeito, seguidamente. Enfim... é apenas uma crítica, e bem pessoal. Bom mesmo é que você, Helena, ouça e tenha as suas próprias impressões. Por hora, vou ali no Hiper da Lagoa comprar algo que sirva de almoço, antes que chegue “a tempestade [que] está perto”, e enquanto “o dia sorri pra mim”. Talvez, depois, como disse, eu mude tudo o que escrevi aqui; talvez não – que é o mais provável.
E lá me vou, assim, cantarolando com voz gutural e simulando uma roda de pogo com os meus outros Eus: “Uma jaula dentro da cabeça! Todos têm medo que escureça! / E gira. E gira o mundo. Nobre vagabundo. / Hoje no circo! O fim do mundo!...”

(P.M.)

Cinemerne, "Coisas belas e sujas": DOWNLOAD

Mais do projeto disponível em:
www.myspace.com/CINEMERNE
www.soundcloud.com/cinemerne

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Outras críticas sobre este EP:

Yellow Domain (entrevista com Paulo Henrique):
Pelas Bandas de Sergipe:
Spleen e Charutos:

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A DANÇA DOS COMUNS



Bandos coloridos de padres, gurus, freiras
monges, bruxas, coro & dançarinos rituais...
todos com suas túnicas pretas, brancas & cinzas
& outros com suas vestes largas esvoaçantes
dançam & rodopiam de mãos dadas
ouvindo respeitosamente a música do Tempo
& tudo é muito gratificante
& tudo é muito digno de riso
& de cerimônias descerimonizadas
alegres, festivas, lascivas & alucinantes
& tudo é singularmente ineficaz enquanto reza
enquanto oração & súplica & petição respeitosa
& todos os deuses estão quietos em seus cantos
& todos os deuses estão em seus céus sem espaço & tempo
& todos os deuses estão guardados em todos os livros santos
omnia opera que bendiz os seus santos & eternos nomes
& todos os deuses estão nas estantes & vivem aí
& em mais nenhum lugar, & em mais lugar nenhum
& por isso todos os devotos & fieis dançam
dançam, dançam, dançam & celebram
porque não há mais danação alguma
somente dança & celebração & o gozo risonho
& porque não há mais o inferno depois do inferno
somente este inverno & este frio & esta fogueira
é preciso dançar junto para manter o calor
& para que haja mais calor & mais alegria
& mais vinho eucarístico para o êxtase sagrado
& todos os deuses, havendo dançado, afinal
são celebrados pelos que dançam sem medo
pelos bacanas que estão empilhados no bacanal

& todos os religiosos de todo o Mundo dão as mãos
& escrevem um único tratado final de Teologia Comum
& escrevem uma única e derradeira Confissão Plural da Fé
& escrevem um único Credo Comum Desobrigante
que tem apenas um único e solene artigo:
"Da fé no Outro que também sou Eu"
o Eu que habita o Mundo: o lugar comum do único
longe da honorável eternidade metafísico-apofática
longe da eterna intangível & ininteligível realidade do Nada
aposto ao Ente eterno sem ser Ser, mesmo
mas cuja eficácia atemporal materializada nas orações
nas orações proferidas desde tempos imemoriais
foi o silêncio obsequioso do “não”:
não existo, não ouço
não vejo, não sinto
não atendo, não salvo
não julgo, não condeno...
Que tradição é traição, disso todos sabem
& por isso dançam, sem vergonha & sem medo
& por isso arremetem suas túnicas & roupas sagradas para o ar
& purificam-se com a nudez sagrada do corpo que é santo & imaculado
até que a Morte se apresente
até que a Morte se apresente & conduza
um a um
um a um a um a um aummm...
ao esquecimento cósmico final, o ZERO da moeda
único lugar destinado a todos que têm fé na Vida
amante lésbica da Morte
com quem vive lhe traindo
com seu eterno consentimento
& nem dizem mais que é traição
com Esperança... sim, a outra
Mas Esperança – & todas elas sabem
& todos os que dançam também – é a pior das amantes
& é justo abandoná-la tão logo encontrem Coragem...

& bandos coloridos de padres, gurus, freiras
monges, coro & dançarinos rituais...
todos com suas túnicas pretas, brancas e cinzas
& mais outros com suas vestes largas & coloridas
dançam & rodopiam de mãos dadas
ouvindo respeitosamente a música do Tempo...