Dias atrás, na Lista PB Rock, feita por artistas, produtores e interessados residentes em João Pessoa, ou não, o amigo @jesuinoandre (músico, produtor, jornalista, entusiasta e cachaceiro nos sábados e demais dias possíveis) enviou uma matéria belíssima que foi publicada no blog Meio Desligado (http://www.meiodesligado.com/), matéria que, antes, como diz o seu autor, havia sido publicada no site Overmundo. Adorei o texto, por parecer tanto com aquilo que diz o grande poeta baiano, Castro Alves ("A praça é do povo, como do céu é o condor..."), e por esse poder lindo que o povo tem de, como dizia Hegel, conduzir o Espírito do mundo à sua realização efetiva, à sua totalidade. Em João Pessoa, com tantas iniciativas que temos presenciado no Varadouro, no Centro Histórico (a exemplo do que tem feito o Coletivo Mundo [@EspaçoMundo] e, agora, somando forças, o Coletivo Sanhauá [@ColetivoSanhaua]), temos visto um pouco disso também; quiçá venha mais, muito mais. Enfim, segue abaixo a matéria na íntegra, e agradeço aos autores por poder republicá-la aqui.A RETOMADA DAS RUASPubliquei esse texto no Overmundo e só me lembrei de coloca-lo aqui quando o vi como destaque principal na newsletter do site (ao lado).
Segue abaixo o texto completo, com mais fotos e links do que o publicado no Overmundo.O ponto em ebulição na cena cultural de Belo Horizonte na atualidade não é nenhuma boate, casa de show ou galeria, mas sim uma velha conhecida de todos: a rua. Quem frequenta ou vive na capital mineira percebeu que nos últimos tempos o espaço urbano está um pouco diferente, com praças se transformando em praias e rotatórias dando lugar a palcos efêmeros para shows.
Mais do que o resultado pela busca de diversão, essa movimentação reflete um posicionamento ativista de parte da população, buscando utilizar de forma democrática e gratuita um espaço que, afinal, é de todos. Problemas nas negociações com casas de shows tradicionais e a falta de apoio do poder público foram alguns dos principais estímulos para que diferentes grupos de pessoas tomassem as ruas para manifestações artísticas, carregadas com um viés político ou não.
Um marco recente no que diz respeito ao uso de espaço público para fins culturais se deu em dezembro de 2009, quando a Prefeitura da cidade proibiu a realização de eventos na Praça da Estação, localizada no centro de BH. Poucas semanas depois, organizando-se através de emails, mensagens no Twitter, Facebook e no bom e velho boca-a-boca, dezenas de pessoas se juntaram em uma manhã de sábado para dar origem à Praia da Estação (em referência à agua das fontes presentes na praça e o calor do verão): em trajes de banho, e mesmo sem as fontes (que não foram ligadas no dia), os manifestantes (se é que este seria o termo para descrevê-los) conseguiram até mesmo um caminhão-pipa para refrescar (e animar) a festa/protesto. A Praia da Estação seguiu acontecendo nos sábados seguintes durante cerca de cinco meses, resultando na revisão do decreto por parte da Prefeitura, que agora irá cobrar R$ 9.600 pela utilização da praça durante um ou dois dias. Vale lembrar que atual administração de BH, do prefeito Márcio Lacerda (PSB), também foi fortemente criticada ao anunciar o cancelamento do FIT – Festival Internacional de Teatro, cuja programação inclui várias ações na rua. Nesse caso, a Prefeitura também reviu a decisão e, posteriormente, divulgou que o festival será realizado.
Casos semelhantes, apesar de não tão emblemáticos quanto o da Praia da Estação, se repetem por Belo Horizonte: o coletivo de músicos e artistas gráficos Azucrina realiza há três anos shows temáticos em rotatórias da cidade – eventos efêmeros que duram até a chegada da polícia; o RoodBoss Soundsystem promove festas com ritmos jamaicanos pelas praças da capital; o coletivo Iml, munido de celulares, gerador e caixas de som, cria ações temporárias sem divulgação prévia em esquinas, praças, pontos de ônibus...
Com ou sem o apoio do poder público (principalmente sem), essas ações têm o potencial de fazer a população se relacionar de forma diferente com os locais com convivem diariamente. Realizado nas noites de sexta-feira desde 2007, o Duelo de MCs é exemplo disso. Inicialmente promovido na (famosa) Praça da Estação e posteriormente transferido para debaixo do Viaduto Santa Teresa, também no hipercentro de BH, o evento se transformou em uma das principais atividades de revitalização da área. Se antes o local tinha entre os (poucos) pontos positivos a proximidade com a Serraria Souza Pinto (multi-espaço que sedia shows e eventos diversos), tendo entre os (muitos) pontos negativos a falta de segurança, o cheiro de urina e fezes nas escadas em direção ao viaduto, o Duelo fez com que um novo grupo de pessoas (oriundas de diferentes classes e regiões da cidade) passasse a frequentar a região e a utilizar o espaço para diferentes manifestações artísticas – de desfiles da Daspu e show de banda de ska da Letônia (sim, ska da Letônia!) até pique-nique vegetariano nas manhãs de domingo.A transformação tem sido tão forte que até mesmo uma nova casa de shows, chamada Nelson Bordello (que ocupa um galpão que anteriormente era de uma igreja evangélica), abriu as portas recentemente nas proximidades do local de realização do Duelo de MCs, dando início ao que alguns já chamam de “a Lapa belorizontina”. Difícil prever o que será da região num futuro próximo, mas, entre as várias lições que podem ser tiradas dessa história, uma delas é a de que a construção do espaço urbano depende de nossas próprias ações.
Crédito das fotos: 1) primeira Praia da estação, autor desconhecido; 2) Praia da estação, autor desconhecido; 3) Rotatória Pirata Azucrina; 4) Show debaixo do viaduto Santa Teresa, autor desconhecido
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