Edward Gorey
UM GÓTICO AMERICANO
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UM GÓTICO AMERICANO
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Texto de Danilo Corci
Edward Gorey (1925-2000) é um artista cujo volume de desenhos encanta, diverte e provoca um fanatismo em colecionadores. Seu estilo único de desenhar se junta à sua imaginação mordaz e a um gosto peculiar. Também há mistério e obscuridade em suas histórias para desafiar o leitor-observador a responder a pergunta "O que ele quer dizer?".
Como acontece com a maioria dos artistas, seus trabalhos não são únicos e seu estilo de desenhar pode variar de livro para livro e seus escritos oscilam entre o explícito e o obscuro. Desde 1953, quando publicou seu primeiro livro, Gorey lançou 29 obras com trinta desenhos cada. Alguns destes trabalhos consistem exclusivamente em ilustrações, com ou sem título. Outras tem o que de certa maneira pode se chamar de linha de história. E ainda outras que ilustram versos ou frases. Há, entretanto, uma lógica especial em seu texto e o leitor não deve esperar uma progressão natural de sentido enquanto vê os desenhos.
O mundo de Gorey está povoado de personagens tirados de Brontë, Wodehouse ou outras novelas góticas. Homens e mulheres da classe alta vestidos em estilo Edwardiano. Os empregados, restritos, sabem onde se posicionar e as divisões de classes são cristalinas. Seu trabalho expressa mais palavras do que idéias e um clima de ameaça está sempre em foco. A expectativa de um horror enlouquecedor, que nunca se realiza, é direcionada para quem aprecia seus trabalhos.
Em "The West Wing", a maior parte de seus desenhos são sobre ou se passam perto quartos vazios escuros, quase quadros ominosos. Este estilo cria um ambiente de incômodo mas a violência, mesmo quando ocorre, nunca é explícita. Em "The Doubtful Guest", um lar é invadido por uma criatura de tênis, que se parece com um pingüim. A família, incapaz de lidar com este problema inexplicável, sofre com sua presença e isto se torna um fardo para todos, um enigma até o seu final. Esta persistência e resolução ocorrem em vários contos de Gorey. Uma invasão similar de um ser estranho ocorre em "The Sinking Spell" mas a aparição, de uma hora para outra, vai embora.
"The Hapless Child" são os devaneios de uma criança infeliz, que usa sua própria morte como ato de vingança contra seus pais. Uma gentil e inocente criança é punida erroneamente por seu professor e seu brinquedo é roubado por outra criança. Ela chora, sozinha em sua cama, até que é raptada por um homem. Libertada e deixada à esmo, ela acaba assassinada por seu próprio pai, que não a reconhece. Este massacre do inocente é comum nas obras de Gorey. Virtude ou o bem nunca triunfam e desastres são imprevisíveis como terremotos.
Mas nem todos os seus trabalhos são sisudos. "The Curious Sofa" é uma celebração da invenção e do humor. "The Gilded Bat" revela seu interesse pelo balé, "The Utter Zoo" e "The Fatal Lozenge" são livros de alfabetização para crianças.
No que tange à suas paisagens, as obras de Gorey estão cheias de baluartes, urnas gigantes, estátuas e prospectos fúnebres. Seus interiores são crus mas detalhados com moldes, cornija, armários e portas. As paredes possuem papéis escuros, cortinas rococós e mobílias opressivas. Seus personagens possuem rostos vagos, com exceção de um. Este é um homem barbudo, sempre visto de robe ou limpando pó e que engole todos a sua volta. As personagens ainda possuem nomes sugestivos como Luke Touchpaper (Luke Papel-Mata-Mosca), Maudie Splaytoe (Maudie Dedo-Torto) e vivem em cidades como Elbow (Cotovelo), Penetralia (precisa traduzir?) ou Hiccupboro (algo como Terra do Bêbado).
Seu humor ainda o permitiu escrever com pseudônimos, em geral formados com anagramas de seu próprio nome. Ilustrou também livros infantis e clássicos da literatura. Sua vida, de um garoto nascido em Chicago, estudante de Harvard e funcionário de uma editora, estão dentro de suas obras. Conhecer Edward Gorey é descobrir um universo ilimitado de belezas e de um estilo vigoroso e cativante. É mergulhar no mundo de nosso próprio desespero e sair ileso e revigorado. Precisa dizer mais para perceber este gênio das artes?
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Texto original em: http://www.speculum.art.br/module.php?a_id=431
08/12/2003
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Mais sobre Edward Gorey em
http://en.wikipedia.org/wiki/Edward_Gorey
http://www.edwardgoreyhouse.org/biography.html
http://www.goreyography.com/west/west.htm
http://www.goreybibliography.com/index.html
http://www.lunaea.com/words/gorey/
http://archive.salon.com/people/bc/2000/02/15/gorey/
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Algumas ilustrações de Gorey
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http://www.coldbacon.com/writing/edwardgorey.html
http://www.geocities.com/sunsetstrip/stage/7535/gorey.html
www.salon.com/people/portfolio/2000/02/15/gorey/index.html - 9k -
www.salon.com/people/portfolio/2000/02/15/gorey/older7.html - 2k -
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A arte alimenta-se de ingenuidades, de imaginações infantis que ultrapassam os limites do conhecimento; é ai que se encontra o seu reino. Toda a ciência do mundo não seria capaz de penetrá-lo.
A arte alimenta-se de ingenuidades, de imaginações infantis que ultrapassam os limites do conhecimento; é ai que se encontra o seu reino. Toda a ciência do mundo não seria capaz de penetrá-lo.
- Loinello Venturi
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O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença. O oposto de arte não é a feiúra, é a indiferença. O oposto de fé não é nenhuma heresia, é a indiferença. E o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.
O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença. O oposto de arte não é a feiúra, é a indiferença. O oposto de fé não é nenhuma heresia, é a indiferença. E o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.
- Elie Wiesel
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3 comentários:
já disse tudo!!! ;)
bjos.
Também penso assim, Yara!
Valeu pelo comentário do não-comentário!
Bjo.
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