sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

LPs novos voltam ao mercado e usados viram febre em lojas de JP
Texto: Ricardo Oliveira
Fonte: Jornal da Paraiba, 27 de janeiro de 2009
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MERCADO - Robério, da Música Urbana, mostra um LP raro de Tim Maia:
os vinis ainda não são a solução para a crise dos CDs
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Um ano depois do Radiohead lançar de forma revolucionária o seu álbum In Rainbows, um anúncio no Brasil parecia atestar o fim de um formato: a Poly Som, última fábrica brasileira de vinis, fechava suas portas. Outubro de 2008 foi o ano do obiturário dos LPs em nosso país, até que em janeiro deste ano a gravadora Deckdisc oficializou a compra da fábrica, anunciando lançar LPs, ainda em abril. A Sony/BMG também prometeu colocar no mercado novamente 30 títulos de artistas do seu acervo. O diferencial? Desta vez em CD e LP. Artistas como Lenine, Los Hermanos e Amy Whinehouse já lançaram cópias de seus trabalhos mais recentes em vinil e a tendência parece ser o retorno de um formato que é impossível de ser pirateado. Os seus fãs valorizam os timbres específicos alcançados na gravação de álbuns neste material. O mercado está pronto para a velha novidade?
NOVO PÚBLICO
Em João Pessoa não existem lojas que vendam os relançamentos em vinil junto aos acervos comuns de CDs, como a Livraria Cultura em Recife, a não ser por encomenda. Para os empresários Oliver de Sousa, da Oliver Discos, e Robério Rodrigues, da Música Urbana, a nova fase dos vinis ainda não é uma solução completa para a crise do CD. “Os LPs têm voltado, mas ainda estão muito caros. Então fica pouco acessível para o pessoal mais jovem. É algo que não vai extinguir o download, mas é uma boa ideia para relembrar ou conhecer tecnologia”, comenta Robério. Os dois empresários comentaram à reportagem que os vinis têm recebido uma procura maior nos últimos meses. “Tem uma garotada, de 18 a 20 anos, que tem vindo aqui e procurado clássicos do rock dos anos 70 e da MPB”, afirmou Oliver. As duas lojas dispõem apenas de CDs e LPs usados, que em sua maioria, variam entre R$ 5 e R$ 20. “Não dá pra pensar em ganhar dinheiro com isso, mas é legal porque dura mais tempo e todo mundo tem mais cuidado”, comenta Esdras Nogueira do Móveis Coloniais de Acaju, que não descarta a possibilidade de lançar o novo trabalho do grupo no formato clássico. Soa bastante promissor.
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PARA ONDE VAI A MÚSICA DIGITAL?*
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Começou assim: em 1999 um garoto de 19 anos chamado Shawn Fanning criou um sistema de compartilhamento de arquivos em MP3 pela internet. O software Napster fez tanto sucesso que as gravadoras ficaram preocupadas. Tudo ficou mais intenso quando a banda Metallica resolveu processar o Napster por distribuir suas músicas ilegalmente pela rede. Fanning perdeu e o seu programa foi proibido. Acontece que a criação do garoto fazia parte de um contexto mais amplo, complexo e inovador: a “cultura do compartilhar” estava surgindo e através de inúmeros softwares ganhou forma nos últimos 20 anos. BNegão, parceiro de Marcelo D2 na época do Planet Hemp, lembra que no fim da década de 1990 o clima ficou tenso no meio musical em relação à atitude de fazer um download. “Na época em que a molecada começou essa loucura toda de baixar músicas, as pessoas falavam do assunto praticamente como se fosse um tráfico de armas”, comenta BNegão em entrevista exclusiva para o Jornal da Paraíba. Claro, além do Napster, outros sites e sistemas Peer to Peer (P2P, “ponto-a-ponto” ) foram encerrados por ordem judicial. As gravadoras ganharam causas judiciais, mas não conseguiriam impedir a viralização dos downloads.
NOVA MÚSICA DIGITAL
Outubro de 2007. A banda Radiohead traz uma proposta inovadora. Quatro anos depois de Hail To The Thief escolhe lançar o novo álbum In Rainbows de uma forma curiosa: através do site da banda, os fãs poderiam comprar um conjunto de MP3 pelo valor que desejassem. Em meio às dúvidas, sete milhões de libras vendidas em apenas uma semana; álbuns em vinil e caixas especiais lançadas em seguida, com faixas extras. Mais sucesso.
A atitude do Radiohead é reflexo exato de algo que se difundiu pelo mundo e o Brasil não ficou de fora. Em meio à crise de vendas do CD, os artistas precisaram começar a inovar e buscar soluções criativas para apresentar seu trabalho. “Muita gente que não tinha como divulgar sua obra, por causa desse caminho, agora tem”, argumenta BNegão, um dos primeiros artistas brasileiros a usar a expressão copyleft. Trocadilho com o tempo copyright (direitos de cópia), a ideia tem a ver com difundir obras livremente, sem restrições que limitem seu uso. O autor continua sendo dono do seu trabalho, mas permite aos consumidores a cópia, distribuição e troca.
A banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju é um exemplo recente sobre esta atitude. Além de distribuir gratuitamente o seu primeiro álbum (Idem, 2005) através do seu site, vai lançar em abril o novo CD pelo selo Trama Virtual. “A gente já tinha a ideia de liberar o álbum em MP3 pelo site, mas aí a Trama propôs o conceito do álbum virtual e nós aceitamos”, comenta Esdras Nogueira, saxofonista do Móveis. O selo da Trama já lançou da mesma forma nomes como Cansei de Ser Sexy e Tom Zé. Os brasilienses confiam que este é o melhor método para lançar as músicas do novo álbum C_mpl_te. Mesmo produzindo cópias em CD do álbum logo após o lançamento do álbum pela rede no próximo mês de abril, a banda investe na ousadia: “Queremos é que todos os fãs copiem, deem de presente, distribuam as nossas músicas para download”, afirma o saxofonista. Para eles não importa se no iPod, YouTube ou CD Player: querem é que o som seja conhecido.
VENDAS CRESCEM
A rede social MySpace (www.myspace. com) tornou-se referência mundial para que bandas independentes divulgassem seus trabalhos. Nela artistas podem incluir gratuitamente suas músicas para que usuários escutem e até façam download. Foi assim que bandas paraibanas como Os Reis da Cocada Preta foram reconhecidas antes mesmo do primeiro show. Nomes como Cabruêra e Star 61 estão lá e sempre divulgam suas novidades para os fãs. Para as distribuidoras, o mercado pode estar difícil, mas quem tem investido na venda digital tem futuro promissor. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos, a venda de CDs e DVDs caiu 31,2% desde 2002, em paralelo ao crescimento de 185% das vendas pela internet e telefonia móvel entre 2006 e 2007. Resta saber se a inovação vencerá a maré descontente das gravadoras.
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*Texto no Jornal da Paraiba, de 27 de fevereiro 2009

Um comentário:

Lidiane G disse...

É! Tá cada vez mais difícil fazer um pé de meia vendendo discos, cds,...