terça-feira, 16 de junho de 2009


DO QUE A MÚSICA PODE SER*
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“A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” (Schopenhauer)
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A propósito de uma introdução
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Semana louca! Vi um pai espacando um pirralho de uns 14 ou 15 anos, dizendo que ele havia roubado uma bicicleta, que a polícia já tava atrás dele e que não queria filho ladrão na sua casa. Outra: estava ali na Epitácio (em frente ao Extra) esperando o ônibus e vi uma garota passando num Pálio; devia tá a uns 100 ou 110 por hora. O povo que estava na parada ficou sussurrando algo como: “malucaexibida”... E eu só pensava: “Pra que isso? Essa velocidade toda?” A resposta veio mais adiante. De dentro do ônibus, que deve ter demorado uns 20m pra chegar, vi metade da pista interditada e a moça sendo socorrida. Havia batido numa daquelas árvores enormes da Epitácio. Lembrei na hora de um trecho da letra “Dói, neguinha”, música nova que a Madalena Moog está trabalhando:
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“Vou querer ver você comer caco de vidro,
Su’alma jogada no meio da pista,
Lavando a Epitácio com seu sangue
E os carros passando, os carros passando...”
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Não sei detalhes e você, certamente, não tem maiores interesses nisso.

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A salvação pela música

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Essa introdução medonha não é feita sem propósitos. O maior deles e certamente o melhor é fazer referência ao filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que via a dor perpassar o mundo e ser, nele, a regra, e não a exceção. Quer um exemplo? Veja o filme “A excêntrica família de Antônia” (1995), dirigido pela belga Marleen Gorris. Veja, especialmente, e para este sentido, a carta que o personagem de Mil Seghers, Kromme Vinger (apelidado de Dedo Torto), deixa para a menina Thérèse (Veerle van Overloop), antes de cometer suicídio. Para Schopenhauer, e depois Nietzsche defenderá isso em sua tese Die Geburt der Tragödie oder Griechentum und Pessimismus (“O nascimento da tragédia ou Helenismo e Pessimismo”), de 1872: “A música se diferencia de todas as outras artes pelo fato de não ser uma cópia do fenômeno [o mundo, como o vemos], [...] mas uma cópia direta da própria Vontade [aquilo que move o mundo, que o engendra]”. Assim, o único enfrentamento para o trágico é a música. E embora Nietzsche, no futuro, discorde de Schopenhauer, ele também sustentará que somente através da música é que podemos enfrentar a terrível mensagem de Sileno – ou a morte, para os menos entendidos. Na sua concepção da tragédia (a grega, evidentemente), que era uma “nova forma de consciência estética”, a música tinha papel primordial, mas, hoje, havia-se perdido. O retorno a esse sentido é a salvação do espírito dionisíaco, e isso, para ele, estava intimamente ligado à construção do Homem Novo. Na modernidade, ele dizia, a consciência é doente, e “a arte é reduzida a mero divertimento e governada por conceitos vazios”. Nietzsche entendia que o espírito dionisíaco era reprimido (Freud, depois, valeu-se disso para falar sobre a “repessão sexual”, os “recalques”, os “tabus”, et cetera), e que estamos separados da intuição sensual e da verdade espiritual (e isso nada tem haver com cristianismo, viu?). O mito trágico, e a música, Nietzsche dizia, haviam-se perdiddo. Não é que a música, hoje, para ser novamente encontrada, tenha que ter um papel político, mas precisa ser uma preparação para a morte – como também Sócrates e Catão de Útica diziam em relação à função da filosofia: “Tota philosophorum vita commentatio mortis est” – uma aliada na construção do homem, o novo e livre homem... é uma necessidade antropológico-pedagógica, portanto. E é mais que isso. Mas isso, aqui até, já foi filosofia demais para um e-mail só.

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* De um e-mail/texto que enviei à Lista PB Rock (15/05/09)

Um comentário:

Anônimo disse...

O som de vocês é uma beleza! Muito bom ter essa força toda brotando de João Pessoa.

Um raro vale-presente para as boas vibrações.

Abraços,
Daniel Sampaio de Azevedo