NÓS, OS NOVOS PERDIDOS
que terrível é olhar o Mundo assim, tão sóbrio
Estou sentado à beira do caminho
igual Roberto & Erasmo, naquela canção
& eu vejo os carros passando
& nem quero mais estender a mão
Quem, de juízo, me daria uma carona?
&, se desse, para onde eu poderia ir?, & para quê?
Os novos perdidos estão ainda mais perdidos, Olga
& você não sabe o peso que é, seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
Estou sentado à beira do caminho
porque a estrada me chamou, & eu ouvi
& porque ela me fala dos lugares que existem:
os lugares que eu queria ver antes de poder dormir
& ela me diz que, quem pára, cria limo
vira árvore & é cortado mais cedo, auroreado
Mas este mundo é tão grande, & tão pequeno
& me invade a casa inteira, todos os dias
pelos cabos brancos & pelos sinais de Wi-Fi
& Bento XVI não sabe o peso que é, seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
Estou sentado à beira do caminho
& estou pela metade da minha estrada
de 37 milhões de desertos percorridos
de estrelas vistas num céu de piche
& meus pés, minhas mãos, meus olhos
ah!, não sabem mais não querer
não querem mais descansar...
Ah!, Ferlinguetti, Ginsberg, Kerouack
ah!, Eduardo Bueno, Cláudio Willer
ah!, Che, Cardenal, Jara, Violeta Parra...
os novos perdidos estão ainda mais perdidos
& vocês não sabem o peso que é, seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
II
Uma vez minha garota perguntou
meio brincando, meio admirada:
Você faz tanto xixi, Pato; por quê?
E eu disse, meio brincando,
meio sem ter muito o que dizer:
porque é muito bom
& eu sempre imagino que a privada sejam os EUA
& fraciono a mijada em pequenos pedaços
que é para ter o suficiente para algumas vezes
Mijar nos EUA é muito bom, garota!
Experimente!
III
Enquanto eu vivia & morria em Bancários
fazia fotos quase diárias
do pôr-do-sol do lado Oeste
que era para onde a minha janela abria
& uma vez, enquanto chovia, eu vi deus lá fora
no frio & na chuva; e ele sorria para mim...
& eu via os céus do fim do mundo, pelos olhos dele
em doses pequenas de grandes cores
& via os prédios que eram erguidos
como a Besta do apocalipse que sai do mar
& guerreia contra os santos servos do fiel Cordeiro...
Ah! Marta, Renata, Sarah, Mabel
não existem mais esses santos, não
então, agora, a besta cresce livre, sim
& nasce dentro de cada um de nós, sim
& faz morada em nossos corações, sim
& sai por nossas bocas, por nossos pés & nossas mãos
& ascende aos céus, edificando & destruindo coisas
espalhando o câncer comum da Vontade
que quer & anuncia um Paraíso pelo Mercado
& pelo dobrar dos nossos joelhos
Bem-aventurados foram Che & Alende
que tinham ideais, & lutaram por eles
& morreram por eles...
O que preferir: morrer por um ideal ou por nada?
Ainda Camus: bons motivos para viver, dizia
são ótimos motivos para morrer
Aos idealistas
a felicidade é uma dose de esperança
Ah, Senhor do Tempo!, & agora?
Eis aí a liberdade desejada, o futuro sonhado
Ah, Senhor do Tempo!, eles não são tão bons, realmente
Quando eu era menino, sonhava como menino
quando cresci, deixei para trás as coisas de menino
– como a idade biológica, também a Terra tem a sua
& a História, & a inocência do Mundo
Ah, Senhor do Tempo!, tudo envelheceu
mas os brinquedos não cresceram
somente a vontade de outros, ainda maiores & brilhantes
que os antigos, como as roupas, já não servem mais
Qual é a próxima Vontade, Senhor do Tempo?
“Há sempre algo a ser conquistado”, diziam
&, se não há, para que viver? Viver para quê?
Oh, Senhor do Tempo!
Esses somos nós, os novos perdidos da América
mais perdidos que em 54
mais perdidos do que sempre
tão perdidos como antes jamais se viu
sem sonhos, sem estradas, sem nada...
sim: os novos perdidos estão aqui
espalhados pelos dias & pelas noites das Américas
& nenhum deus sabe o peso que é seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
IV
Uma vez minha garota disse assim
meio perguntando, meio brincado, meio admirada:
Você faz tanto xixi, Pato, por quê?
E eu disse, meio brincando,
meio sem ter o que dizer, realmente:
porque é muito bom, garota! Muito bom!
& eu sempre imagino que a privada seja o Senado Federal
& daí fraciono a mijada em pedaços bem pequenos
que é para ter o suficiente para mais algumas vezes
Mijar nos senadores do Brasil é uma delícia, garota!
Experimente!
V
Eu vi a geração X delirando pelas praças & pelas ruas do Brasil
fazendo passeatas & manifestações públicas & barulhentas
acreditando em discursos longos & promessas de redenção
filiando-se ao PT, ao PC do B & a outros partidos de extrema-esquerda
& eu vi a geração seguinte ceder ao sonho mais antigo, dos seus pais
apostando na semente que deveria vingar, rasgando a terra
como o broto que se mostra pela manhã, & a tarde, ainda
& como a nuvem que, lá do horizonte, promete a chuva
– & a tal de geração Y foi a grande vítima da paranóia construtivista
que regava essa esperança que demorou muito a morrer, a última
ridicularizada pela geração Z, que zomba do tempo, dos poderes
& da liberdade sonhada, da moral cristã & do futuro alcançado
Sim, perguntam-se: como reter tantas águas?
Que depósito comportaria tanta luminosidade?
& que distância, ainda, precisa ser percorrida?
Que fronteira haveria para ser cruzada?, a do sexo?
Que sonho coletivo haveria ainda, & que coletividade?
O desejo do coletivo denuncia seu enorme fracasso
A globalização é a máscara da individualidade do Poder Único
tendo nos EUA, desde os anos 30, a sua face mais mascarada
& se não há o Outro que é meu próximo, tão valorado, que viva o Eu!
Que viva e Eu & os beijos molhados de Renata Abreu
Tudo, no fim, & por fim, vai & volta... para mim
O que houve com o nosso mundo?
Perguntaram-se os futurólogos & os pastores pentecostais
Alvin Toffler, por exemplo, quedou-se perplexo & murcho
– o futuro não foi assim tão chocante, não daquele jeito
& a tal de “terceira onda”... um mero conceito temporal:
“Um saber comum que, a todos, poderia enriquecer...”
– outra utopia da inclusão, de um mundo unido pela Razão
Mas, como recolher a latrina & ignorar o fedor da merda?
Há que se pensar também em máscaras protetoras, & luvas
causalidades do progresso: o Mundo já era, a Terra está fodida
& é preciso recriá-la, ou colonizar outro planeta...
Como cobrir o Sol com a mão ou com a planta de um pé, somente?
Um dia de chuva & de tristeza, sim, não faria maior efeito?
Kant seria, ainda, a melhor analogia dessa ilusão mecânica:
quanto mais saber, mais isolamento, mais solidão
A razão não se mostrou suficiente, & nem a técnica
os fenomenologistas & os existencialistas mostraram isto
berrando em megafones literários, em filmes & em discos
& em peças chatas & longas que ninguém entende que via...
& eu vi dois bêbados brigando por uma lata de Skol vazia
– reciclada aos milhares, elas bem poderiam salvar o mundo
aliada aos plásticos, aos vidros & às embalagens de papel...
... um monte de lixo que se estendesse desde a terra até os céus
& eu vi a minha geração incrédula, cega & perdida
vestindo fantasias, buscando a sorte, apostando a vida
vagando pelos becos, indo em busca de outros carnavais
rindo pelos bares, trocando olhares, chapados de drogas artificiais
& eu vi duas garotas vomitando cercas de arame farpado
indo de João Pessoa a Campina Grande, loucas & sedadas
ouvindo Gal & Caetano, no disco “Domingo”, de 67
tão admiradas de não haver nele uma que não preste
como a que pergunta a Maria Joana, “o que aconteceu?”
pois que o “dinheiro não te faz mais rica, não mais que eu”
& eu vi esses dias & essas noites passarem assim:
um samba atrás do outro, & mais outro samba que não tem fim
& se há um fim, é uma certeza; que é algo bom, por fim & afinal
que as coisas são o que são, seja para o bem, seja para o mal
pois não há paraíso hoje... não há paraíso hoje & nem amanhã
& nem depois de depois de depois de amanhã... não
& ter alguma fé, hoje, é mais do que nunca, rebelião
VI
Uma vez minha garota perguntou
meio reclamando, meio encabulada:
Você faz tanto xixi, meu bem... o que há?
E eu lhe disse assim, meio reverente
de olhar bem grave & voz impostada:
Porque é bom demais, gata!, é o melhor da mijada!
& sempre imagino que a privada seja a Igreja Católica
& me esforço ao máximo para segurar parte do mijo
que é para ter de sobra para algumas vezes a mais
Mijar na Igreja Católica é uma loucura, querida!
Experimente!
[Poslúdio & Réquiem para “Nós, os novos perdidos”]
Os velho valores
o que houve com eles?
A família, a Igreja, o Estado
em que estado estão?
Foram jogados para o ar
& espatifaram-se no chão
Os novos perdidos estão ainda mais perdidos, Olga
& você não sabe o peso que é, seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
Estou sentado à beira do caminho
porque a estrada me chamou, & eu ouvi
& porque ela me fala dos lugares que existem:
os lugares que eu queria ver antes de poder dormir
& ela me diz que, quem pára, cria limo
vira árvore & é cortado mais cedo, auroreado
Mas este mundo é tão grande, & tão pequeno
& me invade a casa inteira, todos os dias
pelos cabos brancos & pelos sinais de Wi-Fi
& Bento XVI não sabe o peso que é, seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
Estou sentado à beira do caminho
& estou pela metade da minha estrada
de 37 milhões de desertos percorridos
de estrelas vistas num céu de piche
& meus pés, minhas mãos, meus olhos
ah!, não sabem mais não querer
não querem mais descansar...
Ah!, Ferlinguetti, Ginsberg, Kerouack
ah!, Eduardo Bueno, Cláudio Willer
ah!, Che, Cardenal, Jara, Violeta Parra...
os novos perdidos estão ainda mais perdidos
& vocês não sabem o peso que é, seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
II
Uma vez minha garota perguntou
meio brincando, meio admirada:
Você faz tanto xixi, Pato; por quê?
E eu disse, meio brincando,
meio sem ter muito o que dizer:
porque é muito bom
& eu sempre imagino que a privada sejam os EUA
& fraciono a mijada em pequenos pedaços
que é para ter o suficiente para algumas vezes
Mijar nos EUA é muito bom, garota!
Experimente!
III
Enquanto eu vivia & morria em Bancários
fazia fotos quase diárias
do pôr-do-sol do lado Oeste
que era para onde a minha janela abria
& uma vez, enquanto chovia, eu vi deus lá fora
no frio & na chuva; e ele sorria para mim...
& eu via os céus do fim do mundo, pelos olhos dele
em doses pequenas de grandes cores
& via os prédios que eram erguidos
como a Besta do apocalipse que sai do mar
& guerreia contra os santos servos do fiel Cordeiro...
Ah! Marta, Renata, Sarah, Mabel
não existem mais esses santos, não
então, agora, a besta cresce livre, sim
& nasce dentro de cada um de nós, sim
& faz morada em nossos corações, sim
& sai por nossas bocas, por nossos pés & nossas mãos
& ascende aos céus, edificando & destruindo coisas
espalhando o câncer comum da Vontade
que quer & anuncia um Paraíso pelo Mercado
& pelo dobrar dos nossos joelhos
Bem-aventurados foram Che & Alende
que tinham ideais, & lutaram por eles
& morreram por eles...
O que preferir: morrer por um ideal ou por nada?
Ainda Camus: bons motivos para viver, dizia
são ótimos motivos para morrer
Aos idealistas
a felicidade é uma dose de esperança
Ah, Senhor do Tempo!, & agora?
Eis aí a liberdade desejada, o futuro sonhado
Ah, Senhor do Tempo!, eles não são tão bons, realmente
Quando eu era menino, sonhava como menino
quando cresci, deixei para trás as coisas de menino
– como a idade biológica, também a Terra tem a sua
& a História, & a inocência do Mundo
Ah, Senhor do Tempo!, tudo envelheceu
mas os brinquedos não cresceram
somente a vontade de outros, ainda maiores & brilhantes
que os antigos, como as roupas, já não servem mais
Qual é a próxima Vontade, Senhor do Tempo?
“Há sempre algo a ser conquistado”, diziam
&, se não há, para que viver? Viver para quê?
Oh, Senhor do Tempo!
Esses somos nós, os novos perdidos da América
mais perdidos que em 54
mais perdidos do que sempre
tão perdidos como antes jamais se viu
sem sonhos, sem estradas, sem nada...
sim: os novos perdidos estão aqui
espalhados pelos dias & pelas noites das Américas
& nenhum deus sabe o peso que é seguir assim
todos os dias, sem fé nenhuma...
IV
Uma vez minha garota disse assim
meio perguntando, meio brincado, meio admirada:
Você faz tanto xixi, Pato, por quê?
E eu disse, meio brincando,
meio sem ter o que dizer, realmente:
porque é muito bom, garota! Muito bom!
& eu sempre imagino que a privada seja o Senado Federal
& daí fraciono a mijada em pedaços bem pequenos
que é para ter o suficiente para mais algumas vezes
Mijar nos senadores do Brasil é uma delícia, garota!
Experimente!
V
Eu vi a geração X delirando pelas praças & pelas ruas do Brasil
fazendo passeatas & manifestações públicas & barulhentas
acreditando em discursos longos & promessas de redenção
filiando-se ao PT, ao PC do B & a outros partidos de extrema-esquerda
& eu vi a geração seguinte ceder ao sonho mais antigo, dos seus pais
apostando na semente que deveria vingar, rasgando a terra
como o broto que se mostra pela manhã, & a tarde, ainda
& como a nuvem que, lá do horizonte, promete a chuva
– & a tal de geração Y foi a grande vítima da paranóia construtivista
que regava essa esperança que demorou muito a morrer, a última
ridicularizada pela geração Z, que zomba do tempo, dos poderes
& da liberdade sonhada, da moral cristã & do futuro alcançado
Sim, perguntam-se: como reter tantas águas?
Que depósito comportaria tanta luminosidade?
& que distância, ainda, precisa ser percorrida?
Que fronteira haveria para ser cruzada?, a do sexo?
Que sonho coletivo haveria ainda, & que coletividade?
O desejo do coletivo denuncia seu enorme fracasso
A globalização é a máscara da individualidade do Poder Único
tendo nos EUA, desde os anos 30, a sua face mais mascarada
& se não há o Outro que é meu próximo, tão valorado, que viva o Eu!
Que viva e Eu & os beijos molhados de Renata Abreu
Tudo, no fim, & por fim, vai & volta... para mim
O que houve com o nosso mundo?
Perguntaram-se os futurólogos & os pastores pentecostais
Alvin Toffler, por exemplo, quedou-se perplexo & murcho
– o futuro não foi assim tão chocante, não daquele jeito
& a tal de “terceira onda”... um mero conceito temporal:
“Um saber comum que, a todos, poderia enriquecer...”
– outra utopia da inclusão, de um mundo unido pela Razão
Mas, como recolher a latrina & ignorar o fedor da merda?
Há que se pensar também em máscaras protetoras, & luvas
causalidades do progresso: o Mundo já era, a Terra está fodida
& é preciso recriá-la, ou colonizar outro planeta...
Como cobrir o Sol com a mão ou com a planta de um pé, somente?
Um dia de chuva & de tristeza, sim, não faria maior efeito?
Kant seria, ainda, a melhor analogia dessa ilusão mecânica:
quanto mais saber, mais isolamento, mais solidão
A razão não se mostrou suficiente, & nem a técnica
os fenomenologistas & os existencialistas mostraram isto
berrando em megafones literários, em filmes & em discos
& em peças chatas & longas que ninguém entende que via...
& eu vi dois bêbados brigando por uma lata de Skol vazia
– reciclada aos milhares, elas bem poderiam salvar o mundo
aliada aos plásticos, aos vidros & às embalagens de papel...
... um monte de lixo que se estendesse desde a terra até os céus
& eu vi a minha geração incrédula, cega & perdida
vestindo fantasias, buscando a sorte, apostando a vida
vagando pelos becos, indo em busca de outros carnavais
rindo pelos bares, trocando olhares, chapados de drogas artificiais
& eu vi duas garotas vomitando cercas de arame farpado
indo de João Pessoa a Campina Grande, loucas & sedadas
ouvindo Gal & Caetano, no disco “Domingo”, de 67
tão admiradas de não haver nele uma que não preste
como a que pergunta a Maria Joana, “o que aconteceu?”
pois que o “dinheiro não te faz mais rica, não mais que eu”
& eu vi esses dias & essas noites passarem assim:
um samba atrás do outro, & mais outro samba que não tem fim
& se há um fim, é uma certeza; que é algo bom, por fim & afinal
que as coisas são o que são, seja para o bem, seja para o mal
pois não há paraíso hoje... não há paraíso hoje & nem amanhã
& nem depois de depois de depois de amanhã... não
& ter alguma fé, hoje, é mais do que nunca, rebelião
VI
Uma vez minha garota perguntou
meio reclamando, meio encabulada:
Você faz tanto xixi, meu bem... o que há?
E eu lhe disse assim, meio reverente
de olhar bem grave & voz impostada:
Porque é bom demais, gata!, é o melhor da mijada!
& sempre imagino que a privada seja a Igreja Católica
& me esforço ao máximo para segurar parte do mijo
que é para ter de sobra para algumas vezes a mais
Mijar na Igreja Católica é uma loucura, querida!
Experimente!
[Poslúdio & Réquiem para “Nós, os novos perdidos”]
Os velho valores
o que houve com eles?
A família, a Igreja, o Estado
em que estado estão?
Foram jogados para o ar
& espatifaram-se no chão
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