terça-feira, 9 de agosto de 2011

INDIGNAÇÃO! ISTO NÃO PODE ACONTECER!

Colegas do Movimento Varadouro Cultural (MVC), escrevo a vocês em tom de indignação e revolta pelo retalhamento social que estamos enfrentando com o movimento das tribos urbanas nas quartas-feiras, na Praça Dom Adalto.
O Sr. Arcebispo Dom Aldo Pagoto se opõe à frequência dos jovens na praça que ele tem dito que é sua, por achar que os comportamentos homoafetivos são uma afronta à Igreja e que os meninos vão para lá fazer o mal em sua totalidade. Muitas vezes chamou a polícia, para que intimidassem e constrangessem no propósito da evasão. Esses policias fizeram abordagens violentas e revistaram também algumas mulheres lésbicas, dando-lhes um tratamento de pura discriminação, fazendo-as muitas vezes provarem que são mulheres exibindo uma parte sexual de seu corpo. Já chamou também o Conselho Tutelar para que os jovens menores de idade saíssem ou fossem levados para casa.
Por que eles se encontram ali? Quem são? De onde vem? O que sobra a juventude? Essas respostas não interessam para quem discrimina! O Casarão 34, em fevereiro do corrente ano, se preocupou em ter estas respostas, se interessou por um público tão grande e jovem que se reúnem em frente ao nosso prédio, em uma praça que não oferece atrativos reais, que não a própria companhia deles, no dia que encontram-se jovens das mais variadas tribos. Soubemos através do Centro GLBT, que o secretário de segurança pública fará amanhã uma intervenção na praça, com articulação de outras entidades que desconhecemos a origem. Acreditamos ser um repórter sensacionalista que mais uma vez se coloca a espreita das ações de intervenção, afim de criar matéria sem profissionalismo e sem a imparcialidade, favorecendo a seus interesses pessoais ou profissionais. Na praça encontramos jovens artistas, estudantes, universitários, trabalhadores e também pessoas que não fazem nada. São assustadores por usarem roupas de roqueiros? São assustadores por se maquiarem? São depravados por serem homossexuais? São vagabundos por terem um dia na semana para se encontrarem com os amigos na praça? São marginais por alguns usarem algum tipo de droga?
Não, não são! Temos conhecimento de muitos artistas, intelectuais, gestores... que fazem uso de algum tipo de droga e eles não são marginais, não é?! Eles merecem a oportunidade de emprego, o espaço nas rodas sociais, merecem a reverencia fanática quando são símbolos da música, teatro ou artes visuais onde quer que atue. A pergunta que faço é: será que o SR. ARCEBISPO DOM ALDO PAGOTO TAMBÉM IRÁ MANDAR RETIRAR ESSAS PESSOAS DA SUA PRAÇA? Se isso também lhe incomoda, está na hora de ajudar, chegar junto, fazer a sua parte!
O Casarão 34 oferece espaço para diálogo, oficinas para os jovens e também utiliza do protagonismo deles como oportunidade de crescimento artístico e pessoal dos frequentantes da praça. A Secretaria de Saúde em parceria com as entidades apoiadoras ao movimento das tribos urbanas, distribui preservativos, presta assistência na redução de danos a saúde. O centro GLBT orienta e trabalha garantindo o direito dos homossexuais de estarem na praça com a dignidade e respeito que merecem como qualquer outro cidadão. A AOB está nos auxiliando nos direitos que temos de exigir e cumprir conforme a lei nos determina. A Secretaria de Juventude nos auxilia no desenvolvimento das atividades culturais, educativas e recreativas. E o que a Igreja faz? Chama a polícia!

Para saber mais

“Tribos urbanas” é uma expressão cunhada pelo sociólogo Frances Michel Maffesoli, para designar grupos de subculturas ou subsociedades que tem por objetivo principal estabelecer redes de conformidades de pensamentos, hábitos e estilos. A estrutura informal é uma característica presente nesse “neotribalismo”, sua organização está centrada nos costumes referencias de cada estilo, mas propõem diálogo e envolvimentos antagônicos a suas ideologias, refletindo ações fanáticas ou liberalistas de acordo com o grau de envolvimento e entendimento de cada indivíduo integrante dessa homossociedade. A proxemia faz parte do senso comum e cultural dos grupos, fazendo-os cuidadores e integrantes do cerco cultural, tendo como cenário o Patrimônio Histórico e Artístico de João Pessoa, que muitas vezes se encontram em situação de degradação e esquecimento patrimonial da cidade. Por vezes as divergências de valores e respeito a esses espaços são motivo de discussões e até mesmo violência. As reuniões “tribais” acontecem as quartas-feiras, na praça Dom Adauto e reúnem durante o período da tarde e noite, cerca de 450 jovens.
A Unidade Cultural Casarão 34 propõe uma atuação específica para o público das quartas, visto a necessidade de apoio a produção e difusão artístico/cultural, afim de contribuir contínua e integradamente à qualificação do protagonismo juvenil, valorizando as iniciativas já desenvolvidas por eles. O projeto piloto desenvolver-se-á no período de aproximadamente seis meses, de quinze de junho á vinte e um de dezembro do ano corrente, contando com workshop’s, oficinas, ateliers abertos e ainda com a produção e publicação de fanzines mensais.
Entendendo a Unidade Cultural Casarão 34 como extensão institucional da FUNJOPE (Fundação Cultural de João Pessoa) e considerando o plano de atuação cultural desta fundação - no que tange o incentivo, fomento e produção na área artística/cultural nas mais diversas expressões e linguagens – engajamo-nos assim, a incorporar os supracitados grupos nas propostas de políticas públicas culturais desta autarquia. Dessa forma iremos: Prefeitura Municipal de João Pessoa, através de suas secretarias e subsecretarias: SEDEC, SMS, SEJER, FUNJOPE e Casarão 34, a fim de garantir a execução.

Fonte:

Texto de Virgínia Mélo (enviado à Lista de discussão do MVC, 10/08/11)
Produtora Cultural Casarão 34
(83) 8883-7530 / suelenmelo2011@hotmail.com


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