Eles querem botar fogo no mundo, e sair correndo...
Igor Von Richthofen (Scary Monsters), sobre o show de estreia da paraibana Squizopop, postou o seguinte comentário, em seu blog – que uma garotinha no seriado CSI Miami afirma ser o lugar onde os frustrados escrevem o que querem, para ninguém ler –: “... eu me deparo com uma insana passagem de som onde vejo além da amizade (que supostamente levaria a minha opinião à falsidade contida na infame e previsível brodagem); vejo 4 pessoas numa ânsia de passar seu recado sem aquele pudor ou amarras a um suposto ‘bom gosto’. A banda que fazia barulho atende pelo vulgo nome de ‘Squizopop’, e seu efeito é pesado.” É, sim. E eu também estava naquele show; e também escrevi resenha sobre ele; e conheço cada um dos caras que davam as caras ali, no palco. Meninos, meninas, não se enganem: eles querem botar fogo no mundo e sair correndo, mostrando o dedo ou a bunda à sra. sua mãe, ao sr. seu pai.
Na apresentação que a banda faz de si mesma, e pela índole maldita de um de seus guitarristas e vocalistas, o amaldiçoado Ikaro Maxx, a Squizopop é “uma nova forma de vociferar pelas ruas, uma nova febre ensurdecedora, um novo orgasmo implantado nas entranhas da juventude...” E é preciso ter mais de 18 para ouvir o que eles têm a dizr; e é preciso não ter pudores para vê-los em ação, nos palcos, nus e desbocados. Enquanto o Igor Bebum vê “óbvias referências a nomes como Sonic Youth, Nirvana e ecos do melhor do punk 77, mesclados a experimentalismos guiados pela ensandecida dupla de guitarras”, eu vejo as mesmíssimas coisas, cuspidas da Sonic Youth, Weezer e Guided by Voices, principalmente quando é o Pablo Giorgio nos vocais. Mas, ah!, à merda com as referências! A Squizopop tem luz própria, e o EP Polvo (2011) mostra-a muito bem; basta ouvir.
Polvo foi gravado, mixado e masterizado entre agosto e outubro de 2011, no Mutuca Estúdio (Centro Histórico de João Pessoa), com recursos e produção da própria banda. É uma paulada. Além da excelente captação de áudio – bem no espírito anarco-punk da banda –, nem sempre transmitida como nas apresentações ao vivo, a seleção das músicas foi um tiro na mosca, prendendo o ouvinte do começo ao fim, sem deixar a chapa esfriar. A super bem produzida e empolgante “Galleries”, gritada com fúria e paixão, abre espaço para “The same”, que é um ménage à trois ensandecido entre Weezer, Sonic Youth e Thomas Jefferson Slave Apartments. Digo assim para mencionar as referências mais conhecidas, do que se pode chamar de mainstream – embora isso não limite o que a banda faz, como se reproduzindo tendências, etc. É o caos cantado, com cheiro de álcool, fumaça de cigarros e felação. Em “Harvest”, a longa entrada da bateria de Rodolf Lahm, seguida pela guitarra base de Pablo, depois o baixo palhetado do Rafael, e depois as distorções cheias de impedâncias da guitarra do Ikaro, dão solidez ao corpo que faz trilha para a letra. É uma colheita nervosíssima! Principalmente no coro, quando a bateria – que comanda do começo ao fim – muda o andamento, numa sequência punk-hardrock matadora. “The lost ones”, por fim, lembra uma rock-balad à Weezer; também lembra, e muito – e longe de ser cópia –, as faixas 2 e 3 do álbum “Mag Earwhig!” (1997), da americana Guided by Voices. “The lost ones” é a mais lenta do Polvo, e fecha o EP, que é incrivelmente bom. “The lost ones” é servida como aquele cigarro que se acende após o sexo, que vai queimando lenta e gradativamente, apagando e sendo aceso conforme aquele ou aquela que fuma, em um quarto quente numa madrugada. Pode ser também, dependendo da ocasião, o dedo que é enfiado goela abaixo, para (como nos bacanais da Antiga Roma pré-cristã) provocar o vômito; não por desprazer, mas para que o prazer se repita, depois da primeira saciedade. Não; os caras da Squizopop não têm nem a faca e nem o queijo, eles têm a fome. Esperteza que a poetiza mineira, Adélia Prado, sabe dosar bem em todas as suas obras. Sim; parece que os perdidos da Squizopop não estão tão perdidos assim.
SQUIZOPOP é:
Ikaro Maxx – guitarra, ruídos, vocal
Pablo Giorgio – guitarra, ruídos, vocal
Rodolf Lahm – bateria e vocal
Rafael “Spitfire” – baixo e vocal
A primeira aparição pública dos sádicos da Squizopop foi em um domingo, 24 de outubro de 2010, no Centro Histórico de João Pessoa. Depois os caras se apresentaram várias vezes, em vários locais, fazendo shows em lugares sujos e escuros, para públicos diversos e duvidosos. Um aviso: se, depois de um desses shows, você ficar viciado ou viciada na anarquia sonora da banda, e quiser ir aonde ela for e/ou indicar, é bom estar bem armado/a: a experiência pode ser libertadora, para o seu bem ou para o seu mal. E culpa será toda sua.
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