terça-feira, 17 de maio de 2011

Teto branco-gelo
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Estou sentado em meu sofá lendo Allen Ginsberg
..... que me faz companhia (oh, yeah!)
..... & o antitérmico me deixa mole & sonolento
..... & a febre traz efeitos lisérgicos & eu deliro
..... olhando a luz & a Mariposa & depois o Nada
..... pronto & manifesto no teto branco dessa varanda
Um pastor idiota & barulhento fala lá longe
..... & usa o microfone como se fosse uma garotinha
..... que geme & enfia o seu vibrador na boca & no rabo
..... qual gay solitário que tá cagando para os desafetos
..... & não se envergonha de ser fodido & gemer gostoso
..... vociferando coisas incompreensíveis & sussurradas
..... enquanto a noite é uma guitarra desafinada
..... tocando “Arnold Lane” ou coisa parecida
Uma vez eu fiz um poema para o meu amor
..... & era um poema alegre, apesar de tudo
..... & nem estava assim, sim: sem amor nenhum
..... & somente amava por uma falta que não tem tamanho
..... como a Diotima dentro da cabeça do velho Sócrates
..... naquele banquete cultual-erótico-dionisíaco
..... na presente ausência do Alcibíades muito amado
..... que todo amor é amor de nada ou amor de algo
..... & amor é falta & é vontade & perspectiva acerca de...
Uma vez & por tanto amar cheguei a pensar que me amariam
..... mas não fui amado, não, eu não fui amado
..... & pelo simples fato de que não tinha mesmo que ser
..... & me voltei aos livros & aos filmes & me vi assim
..... inconscientemente recitando Alberto Caeiro
..... & enchendo tudo com tantos nomes & referências
..... do jeito que o Igor von Richthofen diz adorar...
..... Então, meu, venha cá: beije a minha bunda! rá rá...
Estou sentado em meu sofá & uso meias coloridas
..... longas meias verdes & uma cueca vermelho-vinho
..... & uma regata listrada em bege, vermelho & preto
..... & penso que Nabila muito riria se me visse assim
..... de nariz fungoso & metido em roupas de cafuçú
..... visu locasso & incontestavelmente psicodélico
..... oierrr, que não se vê em Sousa & nem em Campina
Estou sentado em meu sofá & escrevo tudo ao sabor do acaso
..... querendo o real que atravessa a sala & entra no quarto
..... como nas narrativas de um Kerouac ou um Burroughs
..... meio ladeira abaixo, no automático
..... meio assim, cut-up
..... meio fold-in
..... meio junkie, peep out
..... meio Salvador Dali
..... – como tem de ser –
..... para não perder o dínamo da verborreia das palavras
..... & de sons & de imagens que este glorioso delírio traz
Estou sentado em meu sofá & minha garota ligou p’ra mim
..... disse estar no shopping comprando um tênis Keds vermelho
..... & o meu vizinho está fumando um baseado aqui ao lado
..... & o meu corpo diz que este sofá é tudo o que eu quero
..... & eu sei que ele não suportaria outro delírio, não
..... nem mesmo um careta comprado ali na Viña Del Mar
..... um Derby Azul ou
..... um Hollywood Vermelho ou
..... um Marlboro Gold ou
..... um Lucky Strike Cinza, ahh...
..... ... & também não quero essa cerveja ruim & quente
..... quero estar aqui, absorto & trêmulo & jogado aí...
..... vendo os móveis brancos & a TV preta desligada
..... & vendo as coisas girando & girando diante de mim...
Uma vez sonhei que ganhava uma bicicleta de Almilinda
..... & era um sonho tão tão real que
..... logo que acordei
..... saí apressado a procurá-la
..... & ela não estava onde eu queria (ah!)
..... – não estava não! –
..... Que sonhos, somente, sonhos é o que são
Estou sentado em meu sofá & vejo os livros em minha estante
..... & eles permanecem todos aí onde os coloquei
..... & eles esperam por mim quietos & impassíveis
..... & eles imploram que eu os procure & me sirva bem
..... – como um sultão às suas tantas & tantas putas –
..... & eles me olham com olhar pidão & mãos estendidas
..... & eles aguardam...
..... & meu nariz está ficando cheio de uma coriza quente
..... que escorrer leve & cocegante sobre os meus bigodes
..... & fazem umas bolhas como no nariz do Neil Young
..... no incrível show junto com os caras da grande The Band
..... o último show da grande The Band
..... o legendário show da grande The Band
..... & sei que preciso urgentemente assoar
....................................... pela milésima vez
.................................................... essa porra desse nariz...



Um comentário:

Igor Von Richthofen disse...

Em resposta ao meu nome citado e associado a sua bunda, eu cito o poeta e pensador, Wuldemberg Jr.(Jurubeba).

"Quem gosta de cu de cachorro é mosquito"