As canções em volta do fogo: para Maraike Wegner e outros, que moram longe, com carinho...
Quando eu usava chapéus! Uma noite no inverno de 2007, em São Francisco de Paula - RS
“O MEU MUNDO É MELHOR porque você existe.” Eu não sei a quantas pessoas já disse isso. Sei que, dizendo, ou estava bêbado ou era sincero... ou ambos. Em todos os casos, e mesmo bêbado, não diria isso a qualquer um, a qualquer uma.
Sábado passado (22/01/11) foi um dos dias que, mais uma vez, pude ver como é bom ter amigos, bons amigos. Costumo dizer que falsos amigos são piores que bandidos, FDPtas e afins... Porque, para amigos falsos (e que você não sabe se são), não nos armamos, e, assim, não esperamos o golpe que eles podem desferir contra nós. Para os bandidos, não: podem até nos ferir, mas já estamos meio que esperando por isso. Enfim...
Sábado foi um dia chuvoso. Em meus planos, que os cumpri, iria para o quiosque do Amaury (point do PB Rock Social Clube). Lá encontraria com Renato Abreu, Jesuíno André, Fábio Jorge, Gustavo Rabay, Marcelo Nocera e outros amigos que estavam por lá, como o portoalegrense Hagadir Cabral, que nos levou seu kit-chimarrão. De lá iríamos até Tambaú, Busto de Tamandaré, ver o show de Maria Bethânia, dentro da programação do Festival Estação Nordeste... e, daí, veríamos o que seria. E tudo foi conforme o planejado.
Ainda no quiosque do Amauri, Jesuíno me presenteou com dois livros: Corações blues e serpentinas (Arte Paubrasil, 2007), de Lima Trindade – que já usei em um dos textos – o “A liberdade poética” – no meu blog (http://arteamorliberdade.blogspot.com/2011/01/21.html), e O amor é uma coisa feia (7 Letras, 2007), de Gustavo Rios, na Coleção Rocinante. Gustavo Rabay, depois, me presentearia com um CD do nosso amigo comum, Nando Azymuth, “No escuro” (nem o Nando tem mais esse álbum, para venda), e outro, seu – um EP com cinco marchinhas carnavalescas compostas e arranjadas por ele e pelo pai do Jesuíno André, Jesuíno Lacerda, autor do livro Traição sobre as nuvens (Autor Associado, 2009). Lá pelas tantas, e todos já animados pelo álcool, Jesuíno tomou a palavra para ler o texto/poema “Para dizer que não falei de loucos (Patati-Patatá-Patativa)”, que Rabay havia feito como elogio e crítica aos poemas que costumo levar e ler/interpretar, com voz impostada e tudo – como convém aos poetas – para eles, enquanto vemos a tarde passar, animada com cerveja, cachaça, uísque (primeira vez que bebi um Grand MacNish – cortesia do Fábio Jorge), música, conversas, poemas e violões. O texto/prosa/poema do Gustavo, é como segue:
Por vezes eu fico ilhado por mais diversos poetas,
para não dizer que eu fico “irado”
O cara chega cheio de “alegria, alegria”
com versos quilométricos,
sem métrica e aduz fatos históricos
que se entrelaçam e que se inserem
em múltiplas dimensões e universos paralelos
ou transversos que espelham e espalham
a vaidade do poeta que busca demonstrar erudição.
Numa verdadeira inversão filosófica
as dicções entram umas dentro das outras
numa verdadeira simbiose.
Eu poderia também tergiversar,
mas vou fundo e afirmo que o poeta
transforma tudo em pó linguístico,
e ri,
rima e rema num oceano de idéias ora lúcidas, ora loucas.
Ele levita sobre a pequena João Pessoa
e desenterra na sua pequenez
os esqueletos dos gigantes bíblicos,
como quem David lutou e matou,
fraturando o crânio de Golias, com uma funda.
Mas apesar das longitudes e latitudes dos contextos versos
não podemos negar o porre cultural que o vate proclama!
Vai-te!
E eu na minha sólida ignorância,
na minha inconsciência
só ouço aquelas palavras para veados ou gênios culturais.
E fazendo como a raposa,
fui passear lá no cais onde o navio trafega,
e prendi o poeta Patativa que os anos não trazem mais.
Para não dizer que não falei dos loucos.
[Aplausos! Muitos aplausos!]
E depois dos aplausos, conversamos sobre o duvidoso talento poético do Rabay, enquanto eu lhe dizia do meu espanto de, ele que tanto pede rimas, não ter feito uma ao falar de “funda”, que rima com... você sabe. “E a bunda, Gustavo?”, perguntei, me apossando da lauda com o poema impresso. E rimos; e bebemos; e comemos; e fumamos cachimbo... e nada nessa ordem, necessariamente.
Por volta das 21:00, nos despedimos, deixando o Gustavo lá, de papo com a peruana Geni. Fui com o Renato até o Pão de Açúcar, sacar dinheiro e deixar o carro em casa. Daí fomos a pé para a praia, que é bem perto. Praia lotadérrima! O show de Bethânia já havia começado, e foi exatamente o que prometia: divino. É uma diva essa mulher tão chata. Ponto. E eu pensava se o Marcelo Veloso (professor que me orientou na monografia, quando eu ainda fazia graduação na UFPB, e que era louco-pirado por Bethânia). Nem mesmo a insistente chuva tirava o ânimo do povo, e dos amigos que gritavam trechos das letras conhecidíssimas. Uau!
Fim do show, e eu era um passarinho molhado, e feliz!
Por insistência dos amigos que encontramos pela praia, e com quem estávamos, fomos ao Carboni Bárbaro, andando pela orla – eu e mais seis amigos e amigas. Uma folia boa. Por volta das 04:00, pegamos um táxi até a casa de Renato e, de lá, ele nos fez a gentileza enorme de nos trazer até aqui... Acordei às 14:00 de hoje, domingão chuvoso, e pensei: preciso contar isso tudo aos meus bons amigos ausentes, para que eles também saibam que o meu mundo é melhor porque eles existem.
(P.)
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