quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

EU TAMBÉM ANDO DE ÔNIBUS




O texto a seguir foi escrito por Pedro Osmar, músico, poeta, artista gráfico, agitador cultural e, também, passageiro dos ônibus que singram as veias da cidade de João Pessoa. O texto é um protesto ao aumento absurdo que as passagens dos coletivos - numa trucagem malandra de final de ano, quando todo mundo está com a cabeça nas festas natalícias e no reveillon - tiveram. Postá-lo aqui é nossa modestíssima contribuição, para fazer volume ao grande número de manifestantes que já se unem contra aumento tão abusivo. Leia o texto, é pequeninho; reflita, aja.

O saco de Papai Noel está sendo aberto. Pela internet (youtube) vejo matéria sobre manifestação de estudantes protestando contra o aumento das passagens de ônibus, mas principalmente a partir de um detalhe que tocou fogo na questão: o fato das lideranças estudantis não terem sido chamadas para a mesa de negociações entre poder público e empresários, o que é motivo de suspeita de alguma coisa. Terá sido verdade isso? Estaremos voltando às velhas práticas?
A partir do dia 01 de janeiro de 2011, a passagem de ônibus na grande João Pessoa aumentará, de R$ 1,90 para R$ 2, 10, e o salário mínimo nacional aumentará de R$ 510,00 para R$ 540,00, fazendo-nos acreditar que essa politicagem nacional está mesmo zonando com a cara da gente. Para quem vive de salário mínimo, e tem que sustentar uma família de forma minimamente miserável, são aumentos abusivos. São aumentos que atentam contra a condição humana de cidadãos de bem que vivem para trabalhar (de forma escrava), seja numa repartição pública, numa empresa privada ou na rua, como vendedor de bugigangas.
Para quem anda de ônibus e ganha salário mínimo, sejam pais de família ou estudantes, qualquer aumento é abusivo, considerando o poder de compra do salário que se ganha! E politicamente, nem se fala! É um abuso de poder! Afinal, a população que anda de ônibus não tem nada a ver com os acordos que os políticos fazem com os empresários no sentido de garantir a lucratividade de suas empresas, fazendo com que esse lucro (ou seja, o roubo consentido das autoridades), saia do salário do trabalhador diretamente para a conta das empresas. Isso é um crime!
O poder público tem que ter coragem para planejar a estatização das empresas de ônibus, porque aí, sim, estaremos vivendo e construindo a democracia popular que tanto defendemos nos discursos! Agora que o PSB é governo em âmbito municipal e estadual, deve encarar com seriedade e responsabilidade esse projeto de estatização das empresas de ônibus da cidade de João Pessoa e do estado da Paraíba, para fazer jus aos votos que vem recebendo nas últimas eleições. A população não pode ser penalizada com as armações da eterna ganância empresarial, que quer pisar a todos e passar por cima de tudo, inclusive da dignidade das populações.
Alguém tem que pagar essa conta junto com o povo, e a primeira providência é sustar esse aumento das passagens, e com a seriedade e responsabilidade que o governo municipal de Ricardo Coutinho/Luciano Agra sempre teve, sentar educadamente com todas as lideranças da sociedade (estudantes, trabalhadores, políticos, empresários) e com eles pensar, politicamente, um tipo de reajuste que seja justo e não agrida o bolso dos que precisam do ônibus para exercer a sua produtividade (ir trabalhar, ao lazer, estudar).
Sem falar na garantia de gratuidade do transporte para os desempregados, idosos acima de 60 anos e deficientes físicos (vi cena de um idoso pedindo parada em frente ao mercado de artesanato, e quando ele ia subindo o ônibus arrancou, e um senhor, de uns 80 anos, caiu no asfalto). Enfim, até isso é grave: o tratamento que os motoristas dão ao usuário é desumano em alguns momentos, como se não bastasse. A vergonha política que define os nossos salários, a partir do mínimo de R$ 540, 00 (para o grosso da população) até o de um secretário de estado e seu adjunto, de R$ 18.000,00, esconde a injustiça típica do capitalismo selvagem, que, infelizmente, não se resolve pela paz. As elites facínoras que comandam o país, qualquer país, em qualquer âmbito de poder, é a responsável direta e indireta pelos abismos sociais que tanto apavoram essas elites e as populações desarmadas.
E esse “transe” tende a se radicalizar ao longo das semanas, meses e anos das administrações, considerando que a esquerda que está no poder nos últimos oito anos, não foi capaz de fazer valer a diminuição desse abismo social e político, ficando então a realidade à mercê da violência institucionalizada que é, no final das contas, quem consegue equilibrar os poderes numa sociedade burguesa, fundamentada no capitalismo selvagem, e a selvageria atinge a todos, até quem nada tem a ver.
Uma coisa é certa: as lideranças organizadas dos estudantes e trabalhadores deve ser levada em consideração (como nos bons tempos) já que democracia é a participação de todos os segmentos organizados no debate dos grandes problemas sociais, incluindo a questão do transporte coletivo. Ou vamos preferir ver as batalhas campais de ônibus sendo depredados, estudantes e usuários apanhando no meio das ruas e presos? Acho que a nossa maturidade política deve prevalecer.

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Gritado por Pedro Osmar, em 31.12.2010


Um comentário:

Diego Nobre disse...

Muito bom o texto. Você precisa ler "Tarifa Zero, uma realidade possível" de Marcelo Pomar, liderança do Movimento Passe Livre de Florianópolis, o texto foi escrito em 2006. http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/01/343102.shtml