sexta-feira, 17 de junho de 2011

O homem natural




Quando Chris MaCandles leu O chamado da selva
MaCandles ouviu o chamado da terra &, ah!, ele pirou
Era o homem civilizado querendo voltar às origens...
[uma risada enorme de enorme aqui, & mais outra
ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha
ha ha ha ha ha ha ha HA HA HA HA HA HA HA...]
Ah!, nudistas idiotas & naturebas vegetarianos...
... não há homem natural, não; não há! (Eu digo!)
O homem natural é justamente o antinatural
(que se recusa a ser aquilo que nasceu sendo)
de um jeito ou de outro
por este ou por aquele caminho
negando seu Eu mesmo como coisa ruim
desconhecendo o real valor do seu Eu Real
& a cara sorridente de Thomas Jefferson
& a etiqueta nos restaurantes granfinos
& as festas da gente chique do lugar
& as noites frias depois das chuvas
& os livros santos & os sagrados símbolos
& o sermão do Pe. Pedófilo todos os domingos...
... hipócrita fela de uma puta bemmm puta!

De onde nos veio essa moral que nos arvorizou?
& qual foi o dia que nossa cultura nos emparedou?
Quando foi que nos tornamos árvores & fósseis?
MaCandles talvez fosse um exemplo a ser imitado...
... mas, não; não é & nem poderia sê-lo
O homem natural não dominaria a natureza
animal sem a razão que submete, se submeteria
& não seria somente roupas que não usaria
mas também o fogo
& as comidas enlatadas
& a internet
& a TV digital
& o telefone
& os polegares
& os óculos de grau
& nenhum papel para um poema
& nem papel higiênico para limpar a bunda
O homem natural não faria qualquer poema
& nem ouviria nenhum chamado da nenhuma selva
porque não saberia nada de nada de um Jack London
não amaria a Terra, & desconheceria o que fosse isso
sendo um com ela, uma parte dela & parte do todo
O homem natural não poderia nunca existir
até pelo fato de não saber que “existiria”
que é existente, & o que seja mesmo o “saber”...
vivendo a pulsão cega interior & sem saber dela
jogado por este ou por aquele caminho
em direção à Vontade de vida contra o não-ser
& à liberdade que, sonhada, desconheceria
obedecendo-a como um cego ao seu cão fiel
& como um rio à sua correnteza & ao seu curso
& como a nuvem aos ventos & às estações...
... O homem natural não saberia sobre o vento
mas o sentiria, & isso lhe seria bom ou ruim
mas o que significaria isso de “bom” ou “ruim”?
Ele não saberia, mesmo do “dizer”, o significado
que palavras ou significam algo ou, algo, são
& do mesmo jeito que não há os universais
não há (sim, não há!) o tal de homem natural

& é por isso – & não quero perdão por dizer –
que a maior de todas as piadas é ser hippie (é!)
negar o valor do capital & precisar dele (é!)
como aquele que, simbolizado pelo metal
compra mais metal para uma pulseira, & outro colar
ou um hamburger gorduroso lá na Lagoa
ou o burrinho da cachaça ruim & barata
de mil dores de cabeça & enjoo certo & certeiro
A maior de todas as piadas é ser hippie
& punk, & rocker, & mpbesta, & isso & aquilo
tudo é fantasia & adequação & acaso & luta
& quem é que liga para a verdade de tudo isso?
& todos estão com braços & pernas bem amarrados
& o homem das cordinhas rir dos bonecos
& eu lhe chamo para dançar, mas não sei dançar
& você me chama & eu digo, sim; você me conduz
conforme a propaganda & a insistência comercial
& tudo é um grande baile de máscaras no final
carnaval moderno... a antiga festa dos foliões
procissão de santo, roda de dança & celebração

O homem natural é tão antinatural quanto pode ser
& quanto mais se esforça para não sê-lo
tanto mais é tudo o que evita, & o seu contrário

& agora eu quero que as pessoas, (sim!)
cada uma delas, & ao menos uma vez na vida
olhem para si mesmas & assumam (Oh, sim!):
“Eu também sou uma grande de uma farsa”
& eu quero que as pessoas queiram isso, já!
tudo agora, & amanhã & depois de amanhã

P.

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