Mundo Perfeito
Perfeito! Essa palavra ficou martelando meu juízo desde o primeiro dia (sábado, 13/11) do Festival Mundo. Resumindo: é a que melhor define a sexta edição desse importante evento paraibano e nordestino. Uma conjunção astral-material formada pela estrutura física e ambientes da chamada Usina Cultural Energisa – localizada na principal avenida da cidade, de fácil acesso e com divisões que permitiram diversas atividades com segurança e conforto para todos - e uma impecável programação cultural.
Sua duração foi desde o dia 05 e até o dia 21 de novembro, onde aconteceram interessantes palestras e oficinas (algumas inclusive transmitidas via Internet); mostras audiovisual e de artes plásticas, pocket shows, lançamentos de livro (“Devotos 20 anos” de Hugo Montarroyos) e jornal cultural (“Microfonia” de Olga Costa e Adriano Stevenson). Sua principal característica é essa diversidade de manifestações, tendo a música como principal elemento. Nesse ano tudo mais encorpado e bem produzido, graças à competência do Coletivo Mundo, seu organizador.
Durante os três dias estive como cicerone do jornalista poptiguar Hugo Morais (do site O Inimigo) fazendo a cobertura do festival; ele, prestigiando pela segunda vez, percebeu o quanto evoluiu o festival. No final da tarde e começo do evento, logo na entrada da Usina – embaixo de uma grande árvore, numa espécie de boas vindas e bons fluidos ao evento -, tivemos uma abertura sonora inusitada com o ótimo Varadouro Groove Orchestra, um instrumental superb com figuras carimbadas da cena local, que reúne dez (!!!) bateristas, baixista, guitarrista e naipe de metais. Tocaram, num set curto, um som meio tribal, mas sofisticado e mostrando um ar folk-regional.
Já na “Tenda da Música” a primazia da abertura ficou a cargo do trio instrumental rock Ubella Preta, com uma sonoridade dinâmica e pensante, cuja música inicial do set teve a participação especial da dupla Cassiano na percussão e a dançarina Kilma, que deram certo ar de requinte na apresentação da banda. Um detalhe importante foi a excelente sonorização desse ano, geralmente um “problema” nos festivais e que funcionou redondo em todos os dias.
No começo da noite foi a vez dos pernambucanos A Banda de Joseph Tourton – também instrumental rock – cuja performance sensacional me deixou (e todo presentes) impressionado. Ouvi vários comentários, mas ainda não os tinha visto ao vivo. Em minha primeira audição, sua postura musical remete a amplitude harmônica de um Mombojó com o vigor barulhento dos escoceses Mogwai. Posso dizer que é uma banda gringa! A próxima foi com os locais Pedecoco, banda reggae roots que não é a minha praia, mas foi uma demonstração da variedade sonora da programação, proposto como ideal do evento, que funcionou na medida. Por motivo maior, tive que ir embora e não vi as outras apresentações do dia, com a perspectiva de destaque para o mpbpop alagoano Wado e o peso-pesado candango do Violator. O que foi confirmado depois pelo amigo Hugo.
No segundo dia, no mesmo horário das 16 horas, o quarteto pessoense Dalva Suada abriu a programação. É um rock quase bruto que tem referência bluesy-stoner-math-experimental. Imagine algo como – com a devida proporção – se o MC5 soasse hoje como um Crooked Vultures… É mais ou menos por aí. Perto da “hora do ângelus” os pernambucanos do Anjo Gabriel desfilou um rosário de progressive rock no melhor estilo Focus e Yes. Uma boa banda cujo tecladista barbudo, chapéu na cabeça, me fez comentar com a minha amiga Olga Costa, que se parecia (na postura) com Thijs van Leer do Focus, cujo nome só lembrei agora. O caldeirão de sons teve espaço para o neo hardcore com a paraibana Elmo, música rápida com senso melódico que agitou a galera. Cansado ouvi distante o show dos engravatados Sem Horas, rapazes que fazem um retro-pop-rock com influência dos primórdios do rock brasuca. Estão aprimorando mais suas canções, embora eu prefira a “crueza” do inicio da banda. Depois disso tive que ir a um compromisso familiar e não pude ver o restante, mas segundo comentários as aprsentações do cantor-rabequeiro Beto Brito e do duo indie-rock pernambucano Julia Says foram ótimas. E o público como sempre prestigiando mais as grandes atrações.
O ensolarado feriado determinou o fechamento das apresentações do festival. Pra mim foi o melhor dia. Bem antes rolou banho de mar no Cabo Branco, registro da farofagem bacana local e uma “session” de cervejas geladas. E todo mundo cantando o refrão “a vida é boa, a beira mar em João Pessoa”, clássico madaleniano além fronteiras. E isso foi o mote para conferir o show da banda Madalena Moog, que fez a abertura do dia. Aproveitaram para lançar novo disco e apresentar uma sonoridade mais direcionada ao samba-rock com rabiscos de maracatu e frevo. O cantor, compositor e guitarrista Patativa guia a trupe para uma verdade mais “abrasileirada”, abrindo (um tanto) mão do pop-rock. O novo disco tá sublime e tem uma primorosa produção. O show seguiu a mesma linha, só faltou os dois metais que completam a nova proposta. Na sequência tivemos o trio Sex On The Beach, outro grupo instrumental que faz um surf music moderno com um “punch” rock bem interessante. É uma atração para qualquer evento.. Quando o grupo paulista Gigante Animal começou pensei que seria um som pesado, barulhento e foi todo ao contrário. Som pensando, meticuloso, melódico e até matemático. O amigo ator e expert em bons sons Everaldo Pontes soletrou que achou parecido com o Bufallo Tom sem distorção e eu vi uma similaridade harmônica com o Death Cab For Cuties, do “line up” são os que mais se aproximam do novo indie rock americano. O baterista Thiago Babalu é sergipano, é uma das crias do genial Rafael Jr (Snooze) e com um aval para ser um dos melhores do festival – Pablo Ramires, da Cabruêra foi o outro animal das baquetas – . O Gigante foi uma grata surprêsa!
Minha expectativa também não esperava a bombástica apresentação dos poptiguares Camarones Orquestra Guitarristica do casal Ana e Foca. É outra coisa com essa nova formação. Uma banda com um som mais denso, encorpado, mais rock como o Foca resumiu. Um dos melhores shows do festival! Na seqüência tivemos a Cabruêra, o nome mais importante da nova música paraibana e arroz-de-festa dos principais festivais do país, que justificou sua fama com um dos shows mais cativantes do evento. Botou todo mundo pra dançar, fazendo quase todo repertório do disco “Visagem”. Pra mim não precisava mais nada. Ouvi de longe os argentinos The Tormentos que fazem um surf music bem tradicional. Legal, mas eu já estava louco pra ir pra casa e o corpo pedia uma cama. Não foi possível ficar para ver o Abiarap, novidade do rap local e o lendário BNegão e banda, esse vi chegando com seu indefectível óculos e uma descomunal pança. Até hoje tô filosofando: o Mundo não é um festival da massa, mas é massa para o público!
Texto: Jesuíno André / Fotos: Anderson Silva.
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