domingo, 12 de dezembro de 2010

DELÍRIO E DESTRUIÇÃO... “Diário” de uma noite bem rock and roll


Delírio e Destruição, mais do que dizem os dicionários sobre esses substantivos masculino e feminino, respectivamente, são também dois personagens importantíssimos na grande obra do inglês Neil Gaiman, a aclamada e enorme série Sandman (10 arcos completos, mais de duas mil e quinhentas páginas desenhadas por um respeitoso time de artistas), ou Sonho – personagem inspirado em Robert Smith, da The Cure; o Lúcifer, quando aparece, tem cara de David Bowie. Delírio é uma menininha de cabelos coloridos e olhos também: um azul e outro verde. E como o seu nome diz, ela vive em constante “transe” e criando alucinações, viagens. Destruição, por sua vez, é um brutamontes, mas com espírito de artista – pintor e músico. Tudo o que é destruído ou se destrói, dá lugar a algo novo, e às vezes melhor. Delírio e Destruição, aqui, servem como metáfora para tudo o que direi no resto do texto. Os dois, juntamente com Sonho, Morte, Desejo, Destino e Desespero, na obra de Gaiman, formam os sete Perpétuos (the Endless), que não são exatamente “deuses” ou “semi-deuses”, mas manifestações antropomórficas das características peculiares presentes em todas as pessoas.

Sandman: Robert Smith e T.S.Eliot: “Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó...”


Todo esse pano de fundo é preparação para o tiro ligeiro que é esta descrição das minhas aventuras no sábado/domingo passados (11/12 de Dezembro de 2010).

Mesmo tendo dormido bastante tarde, na sexta, precisei acordar cedo para tratar sobre e rescisão contratual do apartamento que moro, aqui em Bancários. O proprietário, sujeito gente boa, só apareceu quase 14:00, saiu por volta das 15:00. Depois de resolvida essa questão, entrei em contato com Jesuíno e Renato, para saber se eles já estavam lá em nosso point sabatino: o quiosque do Amauri, em frente ao Clube Cabo Branco, em Miramar. Uma amiga nossa, de Porto Alegre, estava visitando a cidade, e estaria (e esteve) lá com a gente. Marcelo Nocera, que eu não sabia que iria ao nosso encontro, foi. Olga, que disse que apareceria por lá, não apareceu. Mas, enfim e afinal, nossos encontros são sempre muito divertidos. Tão divertidos que, parece, o tempo anda mais rápido por ali.

Por volta das 20:00 eu liguei para o Degner, para confirmar o horários dos shows lá no Papagaio Pirata que, como todos sabem (ou as pessoas mais ligadas em cultura alternativa em João Pessoa), reabriu. “Começa às 23:00, Patativa”, ele disse. “Beleza, man”, agradeci. Cerveja gelada, conversa animada, tempo passando. Fiquei em um dilema: vir para casa e, além de isso praticamente ser o tempo de vir e voltar para o Papagaio, ou ir direto para lá e esperar que começasse. Foi o que fiz.

O “novo” Papagaio está bem melhorado – mas ainda pode melhorar bem mais. Lá pelas tantas chegaram os nossos amigos Halisson, Guanambi e Gabriel. E esses loucos me fariam bater o meu próprio record de permanência acordado e na folia. A primeira banda a tocar foi a Retrohollics Classic Rock, e depois a In The Mood faria o show de encerramento. Num intervalo lá, ainda no show da primeira, Ícaro Max (SquizoPop) surrupiou a guitarra de Ivan Leite e, acompanhado por Esaú, que surrupiou a bateria de Vitor Rocco, mandaram um cover tosco – bem tosco mesmo (e também, por isso, bem divertido) – de “God save the Queen”, da Sex Pistols. Não era justo o Degner continuar lá, monopolizando o baixo... Por isso que eu mesmo fui lá e, da maneira que pude, e depois de surrupiar o baixo dele (o melhor baixo que já “toquei” até hoje) dei a minha “enorme” contribuição a essa esculhambação toda. Todo mundo meio... delirante.

Depois que os show acabaram lá pelo Papagaio, decidimos ir ao Carboni – bar que fica ao lado do Bebe Blues, e que está sendo aquilo que o Bebe foi nos seus momentos mais gloriosos. Lugar para shows e cerveja com preços justos. Constatação do óbvio: já não se pode dizer que, na praia, não tenha espaço para as bandas alternativas, independentes, autorais.

De conversa, por lá, vimos o dia clareado e, maldita boca, alguém sugeriu: vamos tomar a saideira na beira-mar? Todos: vamos! E fomos. E aí o tempo se estendeu, garrafa após garrafa. E quando o meu relógio dizia que eram 07:20, eu pensei: “Vou sacanear com Renato, e fazer um favor a ele: acordá-lo para a vida”. Liguei, e ele, sem a experiência do nosso mestre Jesuíno – para quem fiz a mesma patifaria, mas o telefone dava como desligado –, estava com o telefone ligado e, pior, atendeu, com voz rouca: “Fala, Patativa”, e aí o resto foi só de coisas como: “Venha ver que sol lindo, rapaz. Acorde pra Jesus! Ou: tá com saudade da praia, é, nego?” Enfim, cumpri a minha obrigação de amigo que não deixa o outro perder o dia, passar o tempo.

A fome começou a bater e, evidentemente, não tínhamos mais dinheiro para comprar nada. Resultado: “Vamos aos caixas do Pão de Açúcar do Bessa, e aí tiramos dinheiro para um café e, depois, podemos ir à praia, ali no Iate Clube da Paraíba, por trás do Golfinhos”. E foi o que aconteceu.

E o resto da história, sem fatos extraordinários, foi de risos delirantes e, para a minha pele, destruição da epiderme: braços, pescoço, costas, nariz... E é por isso que, se você me ver por aí, vai notar como estou vermelho. Quase 14:00, meu bom amigo Jesuíno liga para mim e, estando razoavelmente próximo, foi lá, me resgatar dessas “viagem” – meus outros amigos, ainda acesos, ficaram por lá, com alguns amigos deles que chegaram depois –... e ainda me deixou comer uma coxa do frango assado que ele levava pra casa. Minha carona foi até ali, Praça das Muriçocas. Entrei no ônibus e o cansaço bateu – era a areia do Sandman fazendo seu efeito*. Chegando em casa, eu não sabia se estava mais com fome do que com sono. Na dúvida, comi. Na sequência, depois de um enorme banho para tirar o sal e de me besuntar com hidratante, dormi até acordar... e havendo acordado, faço esse relato viajoso, mentiroso – porque eu disse que era pequeno, e não soube fazer ser. E fico pensando que, se eu inventar de corrigi-lo, acabo mesmo é apagando-o. Que fique assim, portanto.

Para terminar, quatro observações: 1) há vida inteligente na madrugada de sábado, sim; mas ela não está em nenhum programa da TV Globo; 2) há lugares (bares) legais e experimentais (indie) na praia, e no Centro Histórico a coisa está indo também (Vamos conquistar a cidade, gente!); 3) João Pessoa é a cidade mais linda do Brasil, e ainda não é tão violenta como outras que, também lindas, disputam essa vaga; 4) eu não tenho mais idade para tanta folia.

E é só, e já foi muito.

Sejam felizes, vivam! (Mas tenham juízo, e sejam responsáveis!) Depois da morte, meu bichim, puff...


Agora são 02:24 do comecinho da madrugada de... Segunda-feira, 13 de Dezembro; e eu ainda tenho sono atrasado para ser compensado.



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* Sandman é também conhecido como Morpheus, Oneiros, Oniromante e Lorde Moldador, dentre outros nomes – é o governante do Sonhar. Em inglês, o seu nome equivale a Pedro Chosco, ou João Pestana, o Homem de Areia, na tradução literal. Trata-se de uma referência mitológica encontrada em várias culturas. Uma referência consagrada é a dinamarquesa, através de um conto de Hans Christian Andersen, chamado Ole Lukoeje (ou Olavo Fecha-Olhos). Trata-se da uma figura mitológica que sopra areia nos olhos das crianças para que elas durmam.



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