terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coletivos Culturais na PB

- a arte em conjunto -

Seja com uma formação mais orgânica que integra uma rede nacional, como é o caso do Coletivo Mundo e do Coletivo Natora, seja com o espírito de arte coletiva por identificação que une o coletivo Holístico Extra Piramidal, ou a vontade de criar novos espaços que motivou a criação do recém nascido Coletivo Sanhauá, uma coisa é fato: a cena cultural paraibana independente está em pela movimentação na busca de alternativas.

Ligados a movimentos em vários países, os coletivos culturais surgiram no início do século passado com a idéia de quebrar o conceito fechado de arte estabelecido pelas classes dominantes. Com o passar das décadas, o formato de organização desses grupos foi ganhando novas feições e teve explosão considerável no Brasil na década de 90, compondo hoje o que muitos consideram o quarto setor, que seria o que agrupa iniciativas que não são feitas pelo governo, por empresas e nem pelas ONGs.

Nos últimos anos, a forma de organização tem conquistado adeptos na Paraíba e gerado iniciativas que trabalham na busca da criação de um mercado cultural autosustentável, com a formação de uma rede independente, colaborativa e integrada de ações culturais por todo o Estado. Se no início do século passado a forma de protesto foi marcada pela atitude de artistas como o dadaísta Marcel Duchamp, que transformou um urinol em arte ao levá-lo ao museu, hoje é na articulação entre grupos locais e de outros Estados que os coletivos paraibanos apostam na divulgação e resistência da arte independente.


Na onda Fora do Eixo | Coletivo Mundo

Reunião no Coletivo Mundo / Foto: Rafael Passos


Criado em João Pessoa em 2008, o Coletivo Mundo nasceu do agrupamento de algumas bandas alternativas paraibanas que queriam montar um estúdio de ensaios coletivos. A partir da convivência desses grupos, surgiram ideias da realização de outras atividades em prol do fortalecimento de um cenário cultural independente, dando início a um processo que tomou dimensões consideráveis.

Produtores, jornalistas e outros artistas foram se agregando ao grupo e em abril de 2009 foi inaugurado o Espaço Mundo, no Centro Histórico da Capital, local que funciona como bar, espaço para shows, exposições e diversas atividades do Coletivo.

Segundo Rayan Lins, integrante do Coletivo Mundo, o nome “Mundo” vem do Festival Mundo, que é realizado anualmente em João Pessoa desde 2005, com produção dele e de Carolina Morena. Hoje, o Espaço Mundo é ponto de encontro para realização de shows, oficinas, debates, exposições de artes e mostras audiovisuais.

Integrando o Coletivo Fora do Eixo – rede independente de discussão e produção de ações voltadas para o fortalecimento da cadeia produtiva da cultura do país através de mais de 40 coletivos culturais no Brasil – o Coletivo Mundo possibilita a apresentação na Paraíba de bandas de destaque no cenário independente nacional, assim como organiza turnês que levam para outros Estados as bandas que fazem sucesso por aqui e que dificilmente conseguiriam circular garantidas por outras vias.

Seguindo o modelo da rede que integra, o Coletivo Mundo mantém uma forma de organização entre as bandas e artistas que o compõem. “Todo o trabalho é dividido de acordo com o que cada indivíduo pode oferecer ao grupo, desde o planejamento até o garçom do bar, passando pelo administrativo-financeiro, produção de eventos, sonorização, gerência do Espaço Mundo, bilheteira, roadie, fotógrafia, assessoria de imprensa, e etc.”, conta Rayan.


Burro Morto na Inauguração do Espaço Mundo / Foto: Rafael Passos


O grupo tem, inclusive, uma moeda própria, que está em fase de experimentação. A ideia é ter um sistema de crédito solidário, baseado na troca de serviços e produtos, gerando uma alternativa autosustentável para o coletivo. “Por exemplo, uma banda pode ter um integrante que trabalhe com design e ofereça esse serviço, em troca ele é remunerado em créditos, que podem ser utilizados para contratar uma assessoria de imprensa pra o lançamento do disco da banda”, explica Rayan.

Na opinião de Rayan Lins, o trabalho não só está dando um ‘up’ no fomento a produção, divulgação e consumo de cultura independente em João Pessoa e na Paraíba, como também vem contribuindo para uma mudança de postura entre os agentes da cadeia produtiva, que passaram a se enxergar enquanto parceiros.


Coletivo Natora


Também integrando o Circuito Fora do Eixo e atuando em parceria com o Coletivo Mundo, o Coletivo Natora surgiu em Campina Grande no final do ano passado na tentativa de solucionar coletivamente os problemas comuns enfrentados pelas bandas independentes do país. Assim Marlo Simaskowsk, Diogo Rocha e Giancarlo Galdino inseriram Campina nessa rota alternativa com o objetivo de estimular a produção, distribuição e circulação de bens culturais diversos e de qualquer parte do país.

Realizando atividades na mesma linha das do Coletivo Mundo, o Natora se define como grupo de produção cultural que atua em diversas frentes. “Temos cinco núcleos: Agência Natora, Natora Distribuição, Sustentabilidade Natora, Natora Sonorização e Natora Eventos. Cada grupo é responsável pelo andamento de algumas tarefas. Os núcleos são os pilares do coletivo”, explica Marlo.

Nestes seis meses de atividade, o grupo já fez circular por Campina Grande mais de 20 bandas de outros Estados ou cidades. “Realizamos workshops, debates, shows, agenciamento de bandas, ponto de distribuição de discos, gerenciamos um estúdio e uma casa. Todas as artes de natureza autoral”, afirma Marlo.

Juntos, os coletivos Mundo e Natora estão com diálogo aberto com pessoas de Cajazeiras, Souza e Guarabira podendo expandir a atuação para o interior do Estado.


A arte em conjunto | Coletivo Extra Piramidal

Thiago Trapo e Diego Gerlach / Foto: Dayse Euzébio


Com uma proposta diferenciada, o coletivo Holístico Extra Piramidal nasceu há um ano, em João Pessoa, da influência que um grupo de amigos viu que a produção artística de um exercia sobre a do outro. Formado pelo estudante de artes visuais Diego Gerlach, o artista plástico Thiago Moura (Trapo), o estudante de música CH Malvez, o estudante de educação artística David Alvares e o estudante de jornalismo Caio Gomes, sendo os três últimos envolvidos com bandas locais, o Extra Piramidal foi a definição usada pelos rapazes para reunir as produções individuais sempre influenciadas pelo convívio e momentos de produção coletiva.

Sem características de organização como as dos coletivos citados anteriormente, o grupo abarca a produção do fanzine ‘Pinaco Deral’, feito por Diego, as obras e exposições de Thiago Trapo, a produtora de áudio ‘Geladeira Sonora’, tocada por CH e Caio e a banda Ubella Preta, que tem David e CH como integrantes.

Segundo Diego, a definição como coletivo, que já nem existe no nome com o qual o grupo se intitula, está mais ligada a essência do trabalho dos cinco, que por serem amigos há um bom tempo e estarem sempre juntos, organizando as atividades e produzindo juntos, formam um grupo com influências e interesses comuns.

Para o grupo de artistas, o Extra Piramidal surgiu de forma espontânea. Thiago afirma que a intenção é refletir sobre a arte sem qualquer amarra a burocracias próprias de outras formas de organização, deixá-la fluir e fazê-la circular com o apoio mútuo.

Coletivo Sanhauá

Na mesma linha de romper a apatia se juntando a outros movimentos que tem feito o Centro Histórico da Capital fervilhar, foi lançado em junho deste ano a Casa de Cultura Cia da Terra, que integra o mais novo coletivo cultural da cidade, o Coletivo Sanhauá.

Composto por Erick de Almeida da banda Baluarte, pela Cantora Érica Maria, o cantor Chico Limeira e Patativa, da banda Madalena Moog, o novo Coletivo objetiva servir como ponto de encontro para a realização de atividades como apresentações teatrais, espetáculos de dança, exposições e apresentações musicais mais intimistas.

“Saber que as palavras ‘independente’ e ‘coletivo’ tem caminhado juntas pelo Centro Histórico nos deixa esperançoso, porque pra gente não depender de ninguém tem que estar junto, então devemos aplausos a todas as iniciativas que pensam numa nova forma de construção, onde o agente maior é o grupo. Não estamos aqui para pensar a cultura através de métodos, mas pra fazer tudo com responsabilidade e respeito a arte e a quem a consome”, explica Chico Limeira, integrante do Coletivo.

Cada um com sua área de atuação e forma de organização, os coletivos culturais que tem se configurado no Estado buscam alternativas para fortalecer a produção e fazer circular a arte daqueles que não encontram espaço ou incentivo pelos caminhos tradicionais, mas que compõem na militância cultural diária o rico cenário paraibano nas suas múltiplas manifestações artísticas.

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Texto de Renata Escarião | http://intermitencias.com.br/ | 26 de outubro de 2010


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