sábado, 13 de novembro de 2010

SOMOS


Nos somos o resultado da Liberdade sonhada
O desiderium alcançado & o fim das utopias

Nos somos a vitoriosa Nação Santa
O povo do sucesso histórico
A raça eleita
A casta sacerdotal da realeza
A mais bela das aquarelas de Luyse

Nos somos o Hoje pelo qual, Ontem,
Foram feitas todas as revoluções
E pelo qual morreram todos os santos & mártires
Do Buda ao Cristo crucificado
De Lenin a Gramsci
De Trotski a Lampião & Maria Bonita
De Amaro Gomes Coutinho a Jacobina Maurer
De João Pedro Teixeira a Antônio Conselheiro
Da Revolução Francesa à marcha de 68
De Tancredo em 85 a Ulysses Guimarães, em 92

Nos somos os habitantes deste tão melhor dos mundos
O melhor dos mundos possíveis
Os moradores da Nova Jerusalém
Nova Sião
Novo Céu
Nova Terra

Nos somos o produto dos ideais mais nobres
O positivismo mais positivo
A razão bendita & glorificada
A fronteira vencida
O horizonte descortinado
A esperança realmente desesperada
E assegurada de uma vez para todo o sempre
Assim na Terra como no céu. Amém.

Nos somos o bom termo do sonho americano
A bem-aventurança pesada & medida
A Terra Sem Males conquistada, enfim
A Nova Atlântida reerguida
A Cidade do Sol de Campanella
A Utopia de São Sir Thomas More
E este tão Admirável Mundo Novo

Nos somos o mundo que os beats aspiravam
Que os hippies transcendiam
Que os yuppies maquinavam
E que os punks viam

Nos somos a somatória de todas as fantasias
De todos os delírios
De todas as viagens transacionais
De todas as boas intenções
Que enchem as gavetas das empreiteiras
Do mercado imobiliário
E os quintos dos infernos, por antonomásia

E nos somos o que podemos ser
E somos, por fim, no fim,
Uma grandicíssima de uma merda


(P.)

Um comentário:

Igor Von Richthofen disse...

Eu gostaria de ser capaz de pegar toda essa merda e jogar no ventilador mas ser o carrasco de tudo seria tão patético quanto ser o mártir de todos. Gostei mesmo do poema, mas tem uma questão de gosto pessoal que vejo na poesia e escritos de amigos e que em certos momentos acho enfadonho. O uso de referências a icones,heróis e coisas do tipo.