segunda-feira, 25 de outubro de 2010

SQUIZOPOP – Uma leitura sentimental


Londres, 1968. Na minha TV, a cara de Jim Morrison toma toda a tela, bêbada, em transe, e ele canta/fala: “Vamos ficar juntos...” Daí entra a voz do apresentador, dizendo:

“O cantor é a estrela americana, Jim Morrison, líder da banda californiana de rock chamada The Doors. Através de sua música, Morrison comenta sobre a sociedade. Fala para uma geração que cresceu espalhada pelas ruas do mundo. Para ela, ele é um poeta, profeta e político. Como seus contemporâneos, o grupo mostrou mais claramente contra o que eles são. Esse filme é sua ilustração sobre a situação do mundo. A mensagem do The Doors é barulhenta. Por favor, não ajuste seu aparelho.”

Trata-se do show/documentário The Doors Are Open (1968), dirigido por John Sheppard. E eu, querendo falar dessa nova banda de João Pessoa-PB, tenho essa imagem martelando aqui. A SQUIZOPOP, ontem (domingo, 24 de outubro), oficialmente, fez sua estréia nos palcos da cidade, durante a 2º edição do Festival Demo-Tape, no Espaço Mundo.

Na descrição da própria banda, no Orkut, ela afirma-se como “uma nova forma de vociferar pelas ruas, uma nova febre ensurdecedora, um novo orgasmo implantado nas entranhas da juventude...” e, antes, consta que “não [é] só mais uma banda, um grupo, uma associação de indivíduos com interesses ou gostos musicais bastante parecidos”, mas “uma deriva, uma guerrilha, uma miscigenação de sons, perfumes, cores, atos, caos e lirismo. Uma trip ensandecida que revitaliza laços perdidos, incompreensões, injetando juventude no pós-modernismo apocalíptico”, etc. Uma proposta, sem dúvida, bastante ousada – principalmente quando, hoje, principalmente em se tratando de proposta musical, é tão difícil encontrar diferenças entre tantos iguais. Até que ponto eles conseguem materializar o que propõem? Até que ponto, não? Ontem pude conferir isso, e deixo aqui, para o bem ou para o mal, minhas impressões, minha leitura sentimental.

Primeiro que tudo, gostei muito do show... Não, minto, na verdade, adorei. Um dos shows mais bacanas que vi aqui pela cidade neste segundo semestre. E os motivos são bem simples. O primeiro deles é o que se pode chamar de “elemento surpresa”. Sabe quando você não tem expectativa e... zás, surpresa!

Da performance.

Os caras subiram (literalmente, para quem conhece o ambiente do Espaço Mundo) o palco com fome, com vontade de tocar... loucos para mostrarem o som deles – e isso conta muito, e conta sempre: entusiasmo. E começaram assim, baixo (Rafael Spitfire) e bateria (Rodolf Lahn), testando timbres, meio que numa jam. Daí apareceu Ikaro Maxx e, com a guitarra no talo, ensaiando danças bêbadas e eróticas com ela, simula uma trepada por trás com “sua garota” miando dissonâncias desacordadas. A platéia, ainda meio “que porra é isso”, adorou e aplaudiu. Na mesma... jam... Pablo Giorgio aparece e... criiiiiiickkk... tzszzzzzzz... problemas com o som. O que poderia ser um começo muito bom, ficou assim, meio frustrado.

Problemas de som resolvidos, a banda continuou, avisando que Guilherme Borges, produtor e técnico de som, não estava ali hoje, por problemas pessoais. Por isso, o show seria reduzido a algumas músicas, só. Mas eles o fariam, porque estavam com muita vontade de tocar. E todo mundo viu que estavam mesmo. Quando parecia que iam emplacar novamente, simplesmente não se ouvia a voz de Pablo. Quando, finalmente, aleluia, a voz “saiu”, os caras tocaram como se fosse o primeiro e o único show da vida deles, e isso contagiou o pequeno público presente. Ao final de cada música a banda era aplaudida entre assovios de entusiasmo. No final do show o público pediu bis... mas, não sei porque, ele não veio.

Do som.

A mim me pareceu uma mistura de Sonic Youth (que eu gosto pacas!) com Weezer, nessa fase mais recente (que acho... legalzinha). A banda explora bastante os ruídos, as dissonâncias, acolhendo e recolhendo microfonias, deixando a reverberação fazer parte da música, como aliada... e fazem isso muito bem. Creio que a proposta de ser “uma nova forma de vociferar pelas ruas, uma nova febre ensurdecedora, um novo orgasmo implantado nas entranhas da juventude...” não se cumpre tão bem, na sonoridade, como “nova” – o que não é demérito nenhum; afinal, e como dizia um dos poetas mais antigos: “O que há de novo sobre a terra?”. Quanto à vontade (e que eles a mantenham) e a energia que exalam no/do palco, isso sim é muito bom de ver. Todo o excesso é perdoável, e é contagiante. Seja como for, a SquizoPop é uma descoberta e, podem me acreditar, vou querer ver suas próximas apresentações, e ver até onde esse bando de loucos bêbados vai chegar. Dou meu apoio e entusiasmo.

SQUIZOPOP é:

IkaRo MaxX – Guitarra, ruídos, vocal
Pablo Giorgio – Guitarra, ruídos, vocal
Rodolf Lahm – Bateria e vocal
Rafael “Spitfire” – Baixo e vocal

Para leituras adicionais:

Twitter: www.twitter.com/squizopop

MySpace: www.myspace.com/squizopop

Blog: www.squizopopstereoanarchy.blogspot.com

4 comentários:

Dionísio e a Revolução do Orgasmo disse...

Patativa,

Só queria fazer uma correção quanto ao nosso MySpace:

www.myspace.com/squizopop

Quanto à sua resenha, cara, muito foda mesmo. Achei realmente muito bom o fato de você ter pesquisado & lido com atenção nossos textos, manifestos, etc, disponíveis na internet. Demonstra realmente seriedade & cuidado na maneira de se construir uma leitura da proposta da banda & de como expressamos isso no som & na postura de palco.

Abraço & nos encontramos nos próximos shows!!

jj disse...

Não vi ainda, mas vou conferir sim...
Texto muito bom Patativa!

Grande abraço Ikaro!!! To te devendo essa visita enquanto platéia! =p

MADALENA MOOG disse...

Já revisado, man.

Que bom que o texto foi bem recebido. Porque foi com intenção de cooperar e incentivar que fiz o mesmo.

Nos esbarramos por aí, nos próximos shows.
Abraço.

Dionísio e a Revolução do Orgasmo disse...

Grande João!

Olhe que "dívida é dívida" & eu vou cobrar hein!! ehehehehehe

Com toda certeza isso foi uma bomba de nêutrons de incentivo para nossa banda, cara. É bom quando fazemos algo com sinceridade & isso faz aflorar frutos diversos em diversos níveis.


Com certeza nos esbarraremos nos próximos.

Abraço.