sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UM JAZZ PARA DOIS MIL E DEZ



Um jazz, para começar.
Sim; porque me pego insone,
pensando em “que tipo de geração seremos?”
Kerouac riria de nós,
os tão modernos da América do Norte & do Sul.
Realizada a utopia, resta a barbárie.
É como diz Gaspar Noé, alucinado:
“O tempo a tudo destrói.”
É marcha sem festa de chegada,
porque veio o “e agora, José, para onde?”
Foi o horizonte que ficou desencantado,
atrás de nós?
ou foi a constatação de que o nosso desejo,
a nossa maior vontade,
era um cheque sem fundo?
Será que houve algum “ismo”
que ainda não cultuamos?

Chris McCandless:
exemplo estúpido do moderno beat,
do moderno misantropo.
Também Herzog meteu o pé na estrada,
de Munique a Paris,
por amor a Lotte Eisner – era 1974.
E eu, que nasci no ano anterior,
já andei tanto a pé,
& para tantos lugares que nem sei mais:
& sem qualquer propósito,
& sem qualquer grande narrativa.
“Eu tenho uma história para contar.”
E quem não tem, garoto?
E quem não tem, garota?
É, “nossa geração não tem pais, somente avós.”
Jack Kerouac,
Allen Ginsberg,
Neal Cassady,
Lawrence Ferlinghetti,
Carl Solomon,
William S. Burroughs,
& até Joan Vollmer,
que tomou um balaço no meio da cara em setembro de 1951...
Eles fizeram a História psicológico-pop da América,
com barbitúricos,
com vinhos baratos,
com sexo,
com cigarros Lucky Strike,
com jazz & com livros incendiários.
É só, & é tudo...
Depois disso & cá mais para baixo,
Che, & Alende, & a bossa-nova.
Também os excluídos são incluídos
nos espólios da arte.
E aí não há mais História nenhuma a ser feita.
O desencanto agora é tal que,
vendo vídeos no YouTube,
dessa gente lá de cima & de cá, debaixo,
me animo a morrer:
pelo fato pueril de “estar com os grandes”.

Não é que a América,
aquela que o poema enorme & divino
de Ferlinghetti descreve,
uma América ainda a ser descoberta,
On the road,
seja o Mundo com “M” assim, maiúsculo...
Mas, p’ro Ocidente,
para o nosso Ocidente,
o que seria o mundo literário in fine sem essa América beat?
Ah! Eu a odeio no Vietnam, & a amo em Woodstock.
E como Ferlinghetti espera que a Águia Americana
estenda realmente suas asas & se aprume & alce voo,
eu espero pelo Condor da Latinoamérica,
& pelo Carcará da canção do João do Vale...
Sim, eu também estou esperando
Perpetuamente & para todo o sempre
um renascimento do maravilhoso.

E enquanto espero,
penso em tomar uma estrada nova,
nunca trilhada; mas,
sem esses loucos do passado
ou sem aqueles & aquelas
com quem eu possa dividir a cachaça,
para que trilhá-la?
Ah, meus amigos, minhas amigas:
sejam loucos & loucas comigo!
Venham.
Venham enfeitar as ruas do Varadouro,
incendiar as noites na ladeira da Borborema,
da Casa da Pólvora;
Venham viver os dias que ainda temos,
erguendo o copo vazio & o cigarro pela metade...
Venham, meus amigos:
a História com H,
com H maiúsculo,
não acabou em 68,
& nem em 85.

O Zeitgeist está no mundo,
observando o povo:
o bêbado que dorme num canto sujo;
o mendigo que entra em coletivos & mente,
ganhando os trocados que trocará por crack;
a mãe que amamenta;
o menino que brinca no pátio, sozinho;
a menina que examina o tamanho dos peitos,
olhando-se no espelho;
o operário que trabalha na fábrica,
na construção civil,
na metalúrgica,
no campo...
Uma hora dessas,
quando for mais preciso,
ele se mostrará assim,
de braços & pernas abertas.


Patativa Moog

2 comentários:

Unknown disse...

Olá,

Meu nome é Juliana e trabalho com assessoria em Pernambuco. Gostaria de ter um e-mail seu para contato. O meu é o ju.pont.1@gmail.com

Obrigada!
Abcs,

Ju Pont

facesdeumeu disse...

Sempre bem inspirado... gostei muito moço, e aceito o convite, vamos marcar! Bj.