terça-feira, 14 de dezembro de 2010

INVENTÁRIO




Ah, como fui estúpido & idiota por toda a vida
Como perdi noites com filmes B & livros ruins
Bebendo cerveja, uísque & vinhos baratos
& falei merda por não pensar como ouviriam
Fiz amigos falsos & também ganhei uns poucos, sinceros
& como foi tanto, todas as coisas que eu escrevi
Coisas que ninguém leu; nunca leu & nunca lerá...

Ah, como é difícil ver a verdade sobre si mesmo:
Mais um no mundo cheio de bicho & cheio de gente
Mundo de anônimos tão idiotas quanto é possível
Mundo de anônimos que vendem a alma para não ser
& tanto acordei por um pensamento fútil & vazio
Alguma “verdade” que poderia abalar o cosmos
Que não me deixava em paz se não vomitada
Rabiscada às pressas em qualquer parte, nalgum papel
& como fui louco em acreditar que eu poderia
Contribuir para a felicidade do meu país
Criando máximas &/ou preceitos universais
Desconstruindo as leis, as regras & o mofo histórico
Dessa anarquia imperiosa sobre a razão & a boa-fé

Ah, como fui ingênuo em apostar na delicadeza
& tanto abracei por acreditar que valia a pena
Que o amor, mesmo inexistente, mostrava a ternura
& eu não deveria tirar a fé de quem acredita & dela precisa
Porque eu não tinha um “algo” melhor para oferecer

Ah, como também fui tolo & fui cafajeste
Mesmo me esforçando para não ferir & não ser ferido
Mesmo me esforçando para acreditar na bondade humana
Mesmo que só visse a patifaria & a mediocridade
Dos filhos da puta que botam fogo & saem correndo
Deixando a merda que tanto fede ao deus dará...

Ah, como fui estúpido & idiota por toda a vida
Maltratando o corpo & ouvindo discos que ninguém ouvia
Perdendo meu sono para acompanhar loucos vigilantes
Como um vampiro que ama a noite & foge do dia

Ah, como eu fui tudo & nunca fui nada
Não acumulei tesouros na terra & nem no céu
& os ladrões, quando me roubaram, tiveram pena
Traças & ferrugens, em minha casa, morreram de fome

Ah, como essa vida longa é também tão breve
& eu devoraria o mundo inteiro, caso pudesse
Beberia os oceanos & os horizontes vistos ao longe
& roubaria as estrelas, & os planetas & os pores-do-sol
& andaria de patins por todas as ruas & avenidas
Mostrando o dedo aos homens de terno & aos padres da igreja
Pichando seus muros com frases feitas & letras gigantes
Como a que diz que tempus fugit, carpe diem
&: amanhã & ontem são hoje, e olhe lá!
& mais outra, assim: vá agora à praia e tome banho nu!

Ah, como eu fui tudo & não fui nada
Sim, eu não somei & não dividi
Como eu fui tolo & também... desperto
Como eu fui triste & fui tão... feliz



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